DIA DO MEIO AMBIENTE

Prof. Antônio de Oliveira*

Qual é a melhor maneira de se comportar em um parque natural para não agredir o meio ambiente? A essa pergunta que um dia foi feita, num concurso de frases, respondi: “Sentindo a natureza como uma entidade fantástica e amiga, porém vulnerável e vingativa: agredida, não perdoa; fenecendo, dá o troco”. Não é como Deus, autor da natureza, que, imagino e espero, há de sempre perdoar. Nem mesmo a natureza é como o homem, predador, vândalo, pichador, espoliador, mas que às vezes ainda perdoa.

A um outro concurso de frases sobre o que reivindicam os ambientalistas respondi que não reivindicam apenas ‘meio’ ambiente. Querem o ambiente inteiro, se é que isso ainda é possível depois de tantas agressões expressas inclusive numa linguagem antiecológica, agressiva à flora e à fauna, ou politicamente incorreta. Continuamos a cantar a canção:

Atirei o pau no ga-tô-tô / Mas o ga-tô-tô / Não morreu-reu-reu / Dona Chica-cá / Admirou-sê-sê / Do berrô, do berrô / Que o gato deu / Miau!

E o refrão de ninar: “Dorme nenê que o bicho vem pegá”.

“Quebrar o galho”, depredando a natureza, significa, na gíria e com toda a naturalidade, justamente resolver ou ajudar a resolver uma dificuldade. Assim, parece que solucionar um problema estaria associado à idéia de depredação, em outras palavras, desmatando, destruindo.

No interior da Amazônia, ao contrário, encontrar uma solução se diz “arrodear a samaúma”, num abraço de proteção a essa gigantesca árvore.

Elemento físico desesperadamente cobiçado pelas populações das regiões áridas, também a água é subrepticiamente apresentada como motivo para desatino, em ditos populares e muito conhecidos, como:

Agora é hora da onça beber água. Agora é que a vaca vai pro brejo.

Sem dúvida, corre-se o risco de atolar no brejo, mas ninguém, entre nós, imagina o que seria a vaca ir para o deserto, na acepção do profeta Oséias, símbolo de castigo e de provação. Da mesma forma se diz dar com os burros n’água, quando “o melhor de tudo é a água” (Guimarães Rosa).

Mais vale um pássaro na mão que dois voando...

Que esperteza antiecológica!

Afinal, essas versões vêm sendo inculcadas há séculos, através de um inconsciente coletivo, em que pese à interferência, hoje, de adultos regenerados. Nosso espírito de destruição tem raízes históricas. O colonizador foi, ao mesmo tempo, um explorador e um depredador. Apenas onze anos após o descobrimento, esteve no Brasil a nau Bretoa, que levou para Portugal uma carga de cinco mil toros de pau-brasil, assim como pássaros, macacos e outros animais, e até índios como escravos. Desde então, a depredação criou “raízes” em nossa mente, deixando-as medrar nesta outra “terra”, esta árida e dura, carcomida pelo agrotóxico da insensibilidade humana. Terra graciosa, dando-se nela tudo, “por bem das águas que tem", é o que consta do registro de batismo do Brasil. Batismo de imersão que se transformou em batismo de extração, de sucção, de dissecção, de exploração, de espoliação.

Nosso ambiente já é hoje meio ambiente mesmo. Há muito deixou de ser ambiente inteiro. E assim mesmo, oficialmente, num dia só no ano...

*Coordenador e Supervisor da Consultoria Acadêmico-Educacional (CAED). Técnico em assuntos educacionais há 30 anos, com experiências no serviço público e na atividade privada. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Realizou estágio pedagógico em Sèvres, França. É graduado em Estudos Sociais, Filosofia, Letras, Pedagogia e Teologia. Pesquisador e consultor, presta assessoria, dentre outras instituições, à ABMES, Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, sendo responsável pela montagem do Anuário de Legislação Atualizada do Ensino Superior. Ministra também cursos de legislação do ensino superior.

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fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 05/06/2010
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