MEUS AVÓS MATERNOS

MEUS AVÓS MATERNOS

Não sei por que, mas hoje tive vontade de escrever sobre os meus avós maternos. Meu avô chama-se Manuel e minha avó, Júlia. Moravam em Angra dos Reis num local chamado Pontal e meu avô trabalhava na fazenda de mesmo nome. Na época em que eu era ainda bem criança, o trabalho dele era exterminar as formigas que devoravam as plantações. Nas horas vagas ele fazia artesanato de madeira ou de taquara, uma espécie de bambu também conhecido por taboca. Ele fazia cestos, peneiras, colheres de pau, cocho para animais, etc. Fumava cigarro de palha de milho e fumo de rolo que acendia com seu isqueiro feito com um pedaço de bambu com uma bucha de algodão molhado de gasolina, uma pedra branquinha da cachoeira e um pedaço de limatão de aço que ele batia na pedra e produzia uma fagulha que acendia a bucha do bambu.

Ele era uma pessoa íntegra e cumpridor dos seus deveres, claro que não fazia mais que a sua obrigação, contudo, ainda bem que a morte existe, pois ele não aceitaria viver num mundo de desrespeito em que nós vivemos, apesar de que em sua época também existissem os amigos do alheio, os trapaceiros, o joio.

Eu apesar de pequeno, estava sempre ligado aos acontecimentos. Então um dia ele recebeu a visita de um indivíduo que morava na Ilha Comprida, o qual lhe encomendou meia dúzia de peneiras. Meu avô preparou as peneiras, o homem as levou, mas não pagou. Os dias foram passando e o combinado não foi cumprido pelo freguês. Minha avó falou para ele: -Seu Manel (era assim que ela o chamava), você deve ir lá cobrar as peneiras! Ao que ele respondeu: -Júlia, nós dois fizemos um trato, eu fazer as peneiras e ele pagar por elas. Eu cumpri a minha parte, ele que cumpra a dele.

Às vezes eu fico pensando: esse fato aconteceu há mais de cinquenta anos, quem ganhou e quem perdeu?

Gilson Faustino Maia
Enviado por Gilson Faustino Maia em 06/06/2010
Código do texto: T2303526
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