Óvulos e sonhos envelhecem.

É verdade. Após alguns anos de vida descobrimos que precisamos aceitar a realidade, sem castelos ou príncipes ( sapos são inevitáveis, temos que engolir alguns por dia), ficando evidente que como nossos óvulos também os sonhos envelhecem.

Quando menina sonhava com uma bela prole, talvez 5 pequenos grandes futuros. Mas não era só isso, deveriam ser 4 principes para cuidar de uma princesa.

Todos já com nome préviamente escolhidos ( sobrenome era outra estória).

Mas a vida passa, os sonhos além de não acontecerem se desgastam, vão aos poucos como se desconfigurando. Envelhecem.

As lutas cotidianas superam as meras expectativas de sonhar, que dirá então realizar o que se deseja com intensidade inocente.

Muitas vezes não dá nem para recordar o que sonhamos um dia.

A vida vai seguindo seu curso natural, qual rio indo em frente para desaguar no mar; vamos vivendo ou nos deixando viver. Não importa vivemos dia após dia. Muitos deles sem sonhos.

Mas sou teimosa e sinto falta de sonhar, sinto falta dos sonhos que sonhei. Sinto saudades do futuro que planejei no passado ( hoje deixados há pelo menos 3 décadas atrás já bem distantes )e que não realizei e claro não realizarei.

Vamos seguindo pé ante pé, engasgando, chorando, sendo convidados a deixar a vida de outras pessoas, ameaçados de abandono, abandonados.

Somos engolidos por jogos de culpa alheia que nos sufocam e corroem por nos tornar donos do pior que há no outro, a culpa que ele não segura por achar que tem por obrigação nos endereçar e jogar sem dó nem piedade no meio de nossa cara seus próprios erros. Pesadelo, avesso de um sonho. Golpe de realidade muitas vezes distorcida.

Mas eu digo uma coisa: sonhar eu já não sonho.

Não é por falta de sono, de vontade ou de expectativa.

Talvez seja por excesso. O excesso de realidade pode matar os sonhos.

E a realidade muitas vezes chega desbotada, embotada, meio água potável ( sem cheiro, cor e sabor).

Não reclamo da vida.

Só sinto que cada vez é mais difícil sonhar ou sobreviver ao sonho.

Os óvulos que quando jovens eram portadores de sonhos e vidas maravilhosas, com o tempo se auto destruiram, se esvairam. Envelheceram.

Guardei de todos o melhor o mais incrivelmente fantástico, o que gerou minha princesa ( com nome e sobrenome) que posso dizer sem medo de errar: essa é a maior realização de meu sonho.

Márcia Barcelos.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 07/06/2010
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