O bolo cabeludo

Eu nunca aprendo!

Minha adorada mãe já cansou de me avisar: em determinados lugares devemos ser cordiais e recusar com educação. Humrum...é claro. Isso vale, principalmente, quando visitamos pessoas que não são adeptas da higiene.

Era aniversário dela. Compramos um presentinho e fomos até lá levar nossos votos de feliz aniversário. Conversa daqui, conversa dali e ela oferece: eu fiz um bolo. Comam um pedacinho!

Pra ser sincera eu nem gosto de bolo de aniversário. Sou mais chegada num bolinho pão-de-ló daqueles que se colocam raspas de limão ou erva-doce. Minha mãe, “safa” demais, recusou o “pedacinho”.

_ Obrigada, mas hoje eu amanheci com o estômago ruim.

Hummm ...que desculpa sobraria pra mim? Na verdade nem pensei em desculpa, pois meus olhos cresceram naquele bolo “floresta negra”.

_ Eu aceito sim!

Nisso eu percebo um riso sádico de minha mãe, porém ignorei o gesto e me pus a degustar o vantajoso pedaço de bolo.

Até que estava gostoso, mas de repente meus olhos se depararam com um pentelho que , se bobeasse, era maior que a minha franja. Pentelho ou cabelo? Hummm ...minha mente girava. E agora ...cabelo é mais liso. Isso tá com cara de pentelho. Se fosse cabelo talvez eu não tivesse passado tão mal.

O bolo começou a crescer na minha boca e uma ânsia foi tomando conta de mim. Enquanto elas conversavam eu meditava comigo: e agora?! Que eu faço?! É pentelho, é pentelho! Que nojoooooo. A visão começou a ficar turva e eu tenho certeza de que tive uma leve queda de pressão, pois ambas interromperam a conversa e olharam pra mim.

_ Nossa ...acho que minha pressão caiu. Não posso comer muito açúcar.

Essa foi a minha desculpa para abandonar o restante do bolo com o pêlo ali encravado.

_ Vamos embora porque eu não estou me sentindo bem.

_ Quer água?

_ Não, não. Obrigada! Melhor ir embora.

Até parece que eu ia ser louca de aceitar a água depois de ter experimentado aquele bolo cabeludo. Vazamos de lá! Cheguei em casa e corri pro banheiro. Devo ter posto até o primeiro mingau fora do estômago. Quanto mais eu pensava nas possibilidades advindas daquele pêlo infeliz, mais meu estômago gritava e lançava na privada os restos da floresta “negra”.

Minha mãe, parada na porta, sem entender nada ficou esperando que eu me recuperasse. Por fim contei o que havia acontecido e é claro que ela caiu na risada. Ainda soltou: bem feito, eu te avisei antes de sairmos de casa.

Da próxima vez eu recomendo uma depilação ao bolo antes de ser servido à visita. Quem me dera ter essa cara de pau. Floresta negra? Tô fora!