Pulso

Pulso elétrico, pulso mecânico, pulso eletromagnético, pulso eletromecânico, mas o que me importa agora é o pulso de vida...

Pulso forte, pulso firme daqueles que sabem o que querem, que têm o que querem e que querem o que tem.

Querer é poder, minha mãe sempre falava, mas não é bem assim. O real difere do teórico, assim como a verdade difere do querer. Querer é parte importante, mas pode ser também a porta da infelicidade. Querer o que não podemos, o que não depende de nossas ações conseguir, o que não está ao nosso alcance, é trabalhar pelo impossível, é buscar a frustração.

Pulso forte é querer o que nos é possível alcançar, o que nos é correto desejar, uma vez que dependerá, assim, unicamente de nossas ações alcança-lo.

Até para desejar, querer, é necessário ter domínio completo do ético. Desejar o ético é um bom começo, mas não significa a certeza do caminho aberto, não é garantia de possibilidade, é tão-somente um bom começo, e jamais será a certeza do conseguir.

Muitas coisas éticas estão fora do nosso alcance, pelo menos de forma individual.

Eu poderia querer profundamente a paz mundial, o fim da pobreza, da miséria, da fome, poderia desejar com uma fé inabalável a cura instantânea para todas as doenças, físicas, psíquicas ou sociais. Poderia almejar fervorosamente o fim do câncer, do mal de Alzheimer, da aids, ou que fosse possível uma liberdade de expressão tal que todos, em qualquer lugar, a qualquer instante, sobre quaisquer circunstâncias pudessem expressar suas mais sinceras ou secretas crenças, sejam elas transcendentais ou totalmente materialistas e imanentes.

Como dizia John Lennon, poderia ansiar por completo a existência de um mundo sem religiões, sem demarcações territoriais, onde a humanidade pudesse ser conscientemente livre e eticamente direcionada.

Poderia desejar que toda a maldade do mundo desaparecesse como que por encanto, que todas as crianças fossem dignas e inúmeros outros desejos dignos e éticos.

São todos desejos altruístas, positivistas, e éticos, porem por mais que eu me esforçasse neste desejo, por mais que eu dedicasse minha energia de vida nesta fé irreal, nada conseguiria, a não ser uma frustração total.

Um pulso forte deve agir com inteligência, com sabedoria. Dentro de uma ética não utópica, trabalhar no que lhe for possível e pertinente, localmente de início, tentando demonstrar com suas ações que ser verdadeiramente humano ainda é possível.

Desta forma, passo a passo, ir convencendo por ações e exemplos de vida, e assim aos poucos ir transformando o mundo que nos cerca.

A força de uma ação ética coletiva, não esta no volume de pessoas que a fazem, e sim no volume de pessoas que são alvo reais dela e que podem desfrutar destas boas ações, tendo assim suas vidas impactadas pelo reflexo destas ações. Estas pessoas, alvo e razão das ações sociais, éticas e humanitárias, podem desta forma absorvendo grão a grão, a mensagem positiva destas ações e aos poucos, um a um irem engrossando nossas comunidades de base. Pequenas comunidades de base, são capazes de grandes ações sociais.

Pulso de aço. Pulso dos ignorantes que se acham sábios. Pulsos daqueles que por incompetência pessoal, perderam toda a flexibilidade, e agem as cegas, na certeza ignóbil de que estão certos.

Todos conhecemos alguém assim. Ditadores, amigos, colegas, vizinhos, chefes, autoridades civis, policiais ou eclesiásticas, que na absurda certeza de estarem fazendo o correto, agem movidos por algum principio, de algum sonho, de alguma ordem sobrenatural, baseado em algumas revelações, lastreados por falsa ciência, agindo como se certeza tivessem de suas verdades.

Deste tipo de pulso quero distância.

Pulso fraco. Pulso dos que não sabem para onde ir. O exatamente oposto do pulso de aço. Este pulso acompanha a massa, acompanha os fazedores de opinião como se não fossem capazes de construir suas próprias. De forma muitas vezes inconscientes acompanham os profetas, que dominando o dom das palavras, constroem impérios e riquezas as custas dos fracos.

Um pulso fraco duvida até de si próprio. Sem opinião, sem cultura e com auto estima muito baixa, necessitam seguir alguém, e o fazem em busca de algo em que possam se segurar, como um cão normalmente seguiria o líder alfa da matilha. Muitas vezes a fraqueza é tal, que acreditam nos que lhe possam oferecer um futuro feliz, nesta ou em outra realidade qualquer. Tudo creem, e por isso tudo fazem, em nome de um insensato respeito ao líder.

Pulso impulsivo. Pulso agitado. Aquele pulso que não sabe exatamente o que quer, e muito menos a onde chegar. Age por impulsão. Toma as decisões, como se fosse possível agir sem pensar, sem pesar as consequências de seus atos, sem ser responsável pelo que decide e pelo que faz, inclusive por suas omissões.

Num momento age de uma forma, e logo depois parece desconhecer completamente a direção inicial e agora age diferentemente.

Não estou dizendo que todo impulsivo é mau, ou que não se deve permitir alterar o rumo ou a direção de um caminho tomado. Digo apenas que tanto o rumo inicial, quanto as muitas vezes necessárias alterações de rumo, devem ser tomadas racionalmente, conscientemente, e não apenas por puro impulso, por mais nobre que possa parecer esta razão impulsiva.

Somos experts em fazer parecer nobre, nossas ações e nossos motivos. Temos uma tendência falaciosa a ver nossas razões, como dignas. Mas isto nem sempre reflete a verdade.

Pulso flexível. Pulso equilibrado dos que buscam encontrar o equilíbrio do viver e o do deixar a vida fluir por todos.

Vivemos em mundo onde praticamente tudo é relativo. Os valores, os ideais, as ações, as verdades percebidas, são com certeza relativos. De absoluto, sobram muitas poucas coisas, se é que no fundo sobram algumas. A flexibilidade não é sinal de fraqueza, e sim inteligência racional, e humanidade social.

Por mais que eu ache algo correto, ou verdadeiramente exato, devo ter em mente que nada possui um valor absoluto. Todo valor é proporcional ao peso que depositamos naquilo que julgamos. Desta forma outras pessoas depositam diferentes pesos nas mesmas coisas, e assim os valores diferem de uma para outra pessoa.

Por mais que eu acredite mentalmente que algo é bom ou certo, e por isto eu me dedique à aquilo, não é exatamente porque aquilo seja bom que eu gosto, e sim o seu oposto. É porque eu gosto daquilo, que acabo valorando aquilo como positivo, e assim achando aquilo bom e correto.

Um pulso equilibrado buscará negociar as posições, e permitir certa liberalidade sempre que possível. Um pulso equilibrado buscará evidências verdadeiras, para racionalizar sobre elas, e tentará entender os demais pontos de vista.

Um pulso flexível não aceita dogmas, tabus, preconceitos, revelações e muito menos uma fé cega em alguma autoridade, posto que são todos estes inimigos diretos da verdade. Buscará sempre racionalizar a luz da ciência, do positivo, do real, do natural e do social. Buscará agir sempre com muito amor no coração, buscando aflorar sempre sua humanidade, na busca do equilíbrio necessário a uma vida ética, justa e digna.

Pulso elétrico, pulso mecânico, pulso eletromagnético, pulso eletromecânico, mas o que me importa mais é o pulso de vida, aquele que dá animo ao inanimado, o que faz da físico-química algo biológico, e o que continua em sua escalada da complexidade, indo do biológico para o neurológico, e do neurológico para o social.

Somos vivos. Somos enfim livres até para acreditarmos que não somos humanos ou reais. Porem nosso comportamento, nosso pulso, deve ser flexível o bastante para nos permitir crescer e aprender, não somente com os erros, mas com as novidades.

Arlindo Tavares

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 10/06/2010
Código do texto: T2310867
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