HAJA CORAÇÃO!

HAJA CORAÇÃO!

Maria Teoro Ângelo

Por mais que a ciência insista em dizer que o centro de todas as emoções é o cérebro, sempre foi o coração o escolhido para ser o receptor de nossas tristezas e de nossas alegrias.

De órgão nobre de nosso corpo, vejam só o que fizemos com ele! Um inconsequente como provam os versos: “ Pela porta aberta/ De um coração descuidado/ Entrou um amor em hora incerta/ Que nunca deveria ter entrado.” Dono de grande autonomia: “ Meu coração/ Não sei por quê/ Bate feliz/ Quando te vê.” Capaz de ser relativo, maleável, elástico: “ Meu coração é do tamanho do mundo.” Sobrevive à frase: “ Você machucou, feriu, despedaçou, partiu em pedaços o meu coração.” Resiste às flechadas de Cupido e ainda admite que alguém lhe roube um pedaço ou o leve inteiro, deixando um vazio dentro do peito.

Define a nossa personalidade, o nosso modo de agir, os nossos propósitos: Coração malvado, coração duro, coração mole, de coração aberto, é de coração. Pode ainda ser feito de pedra, de ouro, de banana, de manteiga, de chumbo. E quando é insustentável o momento: “ Explode, coração de vidro!”

O coração tem suas razões e não obedece a lei alguma. Localizado no centro de nosso corpo, desencadeia metáforas: coração da floresta, da cidade, do mundo, do problema, agregando ainda a conotação de lugar onde se concentram as coisas mais importantes. Pode aparecer em lugares inusitados: “ Estou com o coração nas mãos. Vou embora mas deixo aqui meu coração. Cantado em prosa e verso, simboliza o amor e o romantismo. É sede de força e sinônimo de juventude e idealismo num coração de estudante.

Quanto mais se descobre sobre o cérebro e se indica em que parte dele se realizam as diversas sensações, mais o coração é o culpado de tudo. Vai além dos cinco sentidos e faz uso do sexto: “ Meu coração me avisou, meu coração não se engana.” É capaz de nos guiar na dúvida: “Segui meu coração.” E todas as experiências vividas, a liberdade perdida ou conquistada morarão para sempre no coração do homem.

Ele faz o milagre de nos deixar vivos quando dizem que não o temos mais e reafirma o prodígio em: “ Há pessoas com nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração.” É o primeiro órgão a se manifestar e quando para, um indício de que a vida se foi. Feito de músculo e força, com a finalidade primária de bombear o sangue e tomar conta das comportas, fiscalizando o que passa por seus átrios e ventrículos, é constantemente esquecido nessa função em favor de outra mais instigante.

Passamos a vida inteira cercando-o de cuidados para não ser atingido pelos males que o amor, a mágoa e tantas outras formas de sentir trazem e nos esquecemos dos fatores que poderiam comprometê-lo de maneira irreversível. A vida sedentária, a obesidade, o fumo, a poluição, a bebida, a falta de prevenção, controle e tratamento. É que acostumado a ser ouvido pelo lado filosófico da vida, ele não cria muito alarde quando o mal é de origem física.

O coração não dói, dizem os médicos. Dói terrivelmente, dizem os poetas.