FOBIAS E TOLERÂNCIAS

Dizem que o big brother não é um programa cultural. Digo-lhes que também é. Na versão deste ano descobri o termo homofobia. O neologismo foi criado por um psicólogo, em 1971, e identifica o ódio, a aversão ou a discriminação de uma pessoa contra homossexuais.

- Na nossa família não tem viado, dizia Dona Otília. Dizia “viado”, pronunciando com i e separando as sílabas com lerdeza, para acentuar.

Coisa de estranhar pois a família é grande. Da produção de seus pais somam quatro irmãos que vivem na mesma cidade e o Alberto, que fora morar distante. Mais os filhos, sobrinhos, netos dela e dos irmãos, enfim, um monte de gente.

Esta coisa de preconceito existe pra todo lado. É uma desgraça com a qual é melhor conviver e educar quem for possível para o respeito às opções, à liberdade, aos grupos minoritários. Preconceitos de cor, origem, classe social, religião, opção sexual, etc.

- Detesto visita de parente pobre, diz o Abelão, um remediado que se acha.

Quando criança, no início dos anos sessentas, fui a baile no interior, brancos e negros dançavam separados por uma corda.

Basta andar no centro de Porto Alegre para notar que as pessoas passam pelos índios, com seus filhos que se criam como Deus quer, vendendo pequenos objetos de artesanato na Rua da Praia, como se não os notassem e que os moradores de rua que dormem sob o Viaduto Otávio Rocha, dezenas, são vistos com repúdio e medo.

Dona Otília tolera muita coisa, as fugas do marido, que sempre faz que não vê, parentes menos favorecidos pela sorte, é benevolente, ora muito, diz aos de outra religião que Deus é um só, tem amigos judeus e libaneses, dá pão pra um que outro pedinte, e ressalta vez que outra, quando o tema surge:

- Na nossa família não tem viado!

Lurdinha, a filha mais velha, professora da rede municipal de ensino fundamental, não engolia bem a observação da mãe, mas depois de uma ou duas polêmicas resolveu deixar pra lá. Nas últimas férias, com uma pequena verba, que com o salário que ganha não foi fácil de juntar, saiu para dar umas voltinhas. Conseguiu ir até a cidade onde Tio Alberto mora. Havia anos que não o via e, quem não tem grana sabe, acha-se um jeito de ficar na casa de um parente. Ficou.

Dias depois do retorno, num destes debates familiares recorrentes, Dona Otília observou:

- Na nossa família não tem viado!

- Ah! Disse a filha, o Albertinho, o Junior, teu sobrinho, não pode ser mais viado que é, e, como a mãe, repetiu com destaque, vi-a-do.

Dona Otília imperturbável:

- Teu tio sempre foi corno!