O Dilema de um Santo

O Dilema

Impressionante o entusiasmo com que amanhecera. Desfez a cama de nuvens, espreguiçou-se, ajeitou os ralos cabelos que lhe contornam a cabeça, aqueceu-se sob a réstia de uma estrela e tomando nos braços a criancinha que dormia ao seu lado, saiu em busca do cumprimento de uma missão que lhe fora confiada há muito tempo.

“Amanhã, dia treze de junho, é o dia do meu aniversário, mas milhares de pessoas comemoram esta data, na véspera. Como gratidão, faço-lhes alguns favores. Tenho que me apressar. O caminho é bastante longo. Quando me demoro, sou castigado pelas desesperadas que me amarram e me põem de cabeça para baixo dentro de um poço. Preciso chegar antes que anoiteça. E o menino que tenho nos braços? Com quem deixarei? Vou confiá-lo a um amigo que está descansado, tranquilo, guardando o seu carneirinho de estimação. Depois, tenho que encarar o porteiro com sua enorme chave presa ao cinto, sem saber se ele está em um dos seus melhores dias e me deixe sair. Pegarei carona no primeiro asteróide que passar e logo estarei lá.Elas que me esperem! Afinal, não sei nem mesmo como vou agir.O tempo passou e as coisas mudaram: umas, para melhor; outras, para pior. Cada ano é assim. Ainda bem que o porteiro estava de bom humor.

Estou a bordo. Como está indo rápido! O tempo está bom, sem chuvas, sem nuvens carregadas e o trânsito está livre. Não fosse a baldeação de asteróides, já tinha chegado. Já passa de meio-dia lá na Terra. Daqui posso ver como é bela! É uma privilegiada entre todos os outros que conheci. Como merece ser amada!O sol, após um longo dia de trabalho, já se prepara para repousar. No momento, atravesso uma fofa camada de nuvens com frisos dourados, mudando gradativamente do vermelho para o alaranjado e deste para o cor-de-rosa num verdadeiro espetáculo multicor! Está escurecendo. Pequenos pontos luminosos aparecem no firmamento. Como é engraçado! Vistos daqui, não dá para acreditar o quanto são gigantescos! Estou quase chegando...

Enfim, aterrissei. O importante é que estou aqui, de volta às minhas origens, tendo a oportunidade de ver a alegria no rosto das pessoas e, principalmente, de receber as homenagens que me fazem ao calor das fogueiras, assistindo à queima de fogos que desenham arabescos no espaço, alegrando-me com o tremular das bandeirinhas decorativas que estão em todos os lugares, sem falar nas lindas músicas roceiras que embalam os dançarinos, que vibram exibindo vestes características. O cheiro das comidas típicas é de dar água na boca!

Minha missão é fazer algo pelos jovens que procuram um amor. As meninas inventam mil coisas engraçadas, para me sensibilizar, em troca de que lhes arranje um marido. Há algum tempo, meu dia foi mudado para “Dia dos Namorados”, que venho atendendo com presteza e precisão. Acontece, que não estou vendo nenhuma menina fazendo as simpatias costumeiras dos anos anteriores. Nem estou vendo casais de namorados querendo saber do futuro. De uns tempos para cá, estou confuso e apreensivo. As coisas mudaram e fogem ao objetivo da minha missão. Ah! Não vou me preocupar com isso. Já trabalhei muito. Vou-me aposentar. Será que vão mudar meu dia para "Dia dos Ficantes?" Vou-me embora!... Fuuuuuuuiiiiiii!... "

O grande Santo Casamenteiro retornou ao confortável lugar na galáxia de onde veio.

Maria de Jesus. Fortaleza, 12/06/2010

Maria de Jesus
Enviado por Maria de Jesus em 13/06/2010
Reeditado em 12/06/2013
Código do texto: T2317267
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