O mês de junho é mês de festas, no Nordeste. Fogueiras,comes e bebes,novenas e trezenas,bandeirolas,quadrilha,forró.Antigamente,também balões.Mas,o santo da devoção das moças e senhoras é mesmo Sto. Antonio.A tradição desta festa vai há mais de 300 anos,e,chegou até nós,graças aos portugueses,que herdaram dos celtas,pois,nessa época,começava o plantio,e,de invocavam e festejavam os deuses,para obter boas colheitas.Minha avó,nunca deixou de festejar Sto. Antonio; tinha um bem grande,de madeira,barroco,bem gorduchinho,com o Menino Jesús,nos braços.Mal começava o mês,toda a casa se mobilizava.Nós,as crianças,corríamos para o armazém de Jesuino,para comprar papel de seda,de todas as cores,mas,principalmente azul,cor do santo.Fazíamos as flores em papel crepom,bem bonitas,variadas em formas e tamanhos,trabalho para minha mãe,que era muito prendada;as crianças ajudavam a cortar e colar as bandeirolas coloridas,usando a goma arábica,cuidadosamente,para não manchar.A guarnição do altar de três andares,ainda tinha vários enfeites e guirlandas,enfeitados com areia brilhante,papel dourado,anjos,faixas de agradecimentos,em tafetá,tudo ao gosto do santo.Rezava-se o Responso,para achar coisas perdidas e tirar das aflições,pois a fama do santo era imbatível.Nenhum mais milagreiro que ele.”Se milagres desejais,recorrei a Sto. Antonio,” era um dos versos do responso.”Recupera-se o perdido
Rompe-se a dura prisão
E, no auge do furacão,
Cede o mar, enraivecido.
Quando o milagre acontecia, rezavam-se as trezenas, em agradecimento, com flores, de preferência angélicas, rosas e cravos, cânticos, fogos, fogueira e muita comida: canjica, lelé, cocadas, milho assado e cozido, amendoim, bolos diversos, pães, mingaus de milho e tapioca, bolinho de estudante, também chamado “punheta”, talvez por causa do formato, comprido e grosso, sei lá... E,havia os licores...A boa dona de casa,os preparava ela mesma,o jenipapo de infusão ,de ano prá ano,na boa cachaça,dentro de uma vasilha escura,de vidro,para não pegar sol.,escondida no porão;havia licor de maracujá,cajá,passas,rosas (feito pelas freiras do Bom Pastor) e licor de tamarindo;ainda não falei da doçaria,sequilhos de côco e nata,que desmanchavam na boca,alfenins,carecas de arcebispo,olhos de sogra,já estou engordando só de lembrar.!Vinha muita gente, pelo santo e pela comida. Milhares de fogos,vulcões,rodinhas,traques,bombas,chuvinha,as crianças se regalavam.A fogueira,imensa,no meio do quintal,enfeitada de guirlandas ao redor,as pessoas pulavam a fogueira,viravam “compadres e comadres,” as moças e os rapazes,iniciando um namoro,pois o santo é,acima de tudo,casamenteiro.Escolhido o pretendente,era à hora das “simpatias”;quem quisesse saber com quem ia casar era só arrumar uma bacia virgem,encher de água,e,colocar nela papeluchos com o nome dos candidatos,dobrar bem dobrado,na noite do dia 12 e colocar num quarto bem escuro;no dia seguinte,13,ia verificar;o papel que estivesse aberto,continha o nome do noivo prometido.Era pau,casca;não falhava.Também havia a simpatia dos limões,esta bem portuguesa:numa caixa,colocavam-se três limões;um bem verde,outro meio verde e um bem maduro;deixar num quarto bem escuro,á noite e,no dia seguinte,a moça pegava,ao acaso,um limão;se viesse o bem verde,ia casar com rapaz moço;meio verde,com um homem maduro;já o maduro,ninguém queria;significava casar com velho,possivelmente viúvo e com filhos,prá a moça acabar de criar.No fim da festa,distribuía-se os pães bentos,pequenos,redondos,que não se comia;se punha na lata da farinha,para a casa ser sempre farta.Muita mocinha afoita não resistia e comia o pão proibido,diante da imagem,pensando no amado,para apressar o casamento.
Bons tempos que não voltam mais, pois a força do progresso, silenciou as tradições, como diz a música.
Mas, eu lhes digo; continuo acreditando. ”Que seria de mim,meu Deus,sem a fé em Antonio!” Além do mais,meu marido é Antonio,lisboeta e nasceu em junho.Quer mais!?

*Esse texto é uma "degustação"  do livro "A BAHIA DE OUTRORA",QUE CONTA COMO ERA A NOSSA BAHIA DOS ANOS 50/60,SEUS COSTUMES,SUAS FESTAS,SUA GASTRONOMIA.
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Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 13/06/2010
Código do texto: T2317939
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