Escrevi, mas não mandei (EC)


A carta que escrevi dizia mais ou menos assim:
 
Prezado Plutonito, o invento que criei chama-se “chatômetro” e objetiva exterminar em definitivo os chatos do planeta sem deixar nem sombra do DNA para gerações futuras. Se não conhece em seu planeta o que seja um sujeito chato, vou citar dois exemplos deste começo de dia.
           Eu trabalho como inventor, como poderá verificar pelo projeto anexo, que quero patentear. Pois bem, hoje ao sair de casa para a OII - Oficina dos Inventos Incompreendidos, ainda na parada do ônibus avistei o primeiro chato tentando sair da calçada para a avenida. Num veículo com carburador e tudo mais que vencido, o sujeito ficou bons minutos enchendo os pulmões de quem estava à espera do coletivo com o ar do escapamento fumarento, com suas janelas fechadas, é claro, porque ele só é chato, não é burro.
           Já com o pulmão grafitado entrei no ônibus, que até não era bem o que eu queria, mas tomei para me livrar do chato. Consegui sentar à janelinha e com os 5°C que fazia pela manhã todas as janelas do coletivo estavam lacradas. Entre tosses e fungados, eis que se destaca o segundo chato do dia. Ele ou ela, com seu rádio-celular a milhão espalhando um “funk” às quatro rodas do mundo. Não. Não era com fone de ouvido para estourar os próprios tímpanos. Isto seria uma bênção. Era com alto-falante para todos ouvirem. Talvez o senhor não faça ideia do que seja o tal do “funk”, mas é uma espécie de tortura auditiva que faz com que os vertebrados do meu planeta se chacoalhem dos pés à cabeça, mas que fora do ambiente de dança não deveria ser tocado em alto som. Ainda bem que não chegou por aí, não é?!
            Bom, resta esclarecer sobre o invento e solicitar que seja inscrito no livro de registro de marcas e patentes. Trata-se de um aparelho do tamanho de um botão - daqueles de jogos de mesa de antigamente -, que se utiliza a cada destruição permanente de chato. Basta se acionar o aparelho na direção exata do chato para que este se decomponha em partículas invisíveis e desapareça deste sistema solar, não ficando em órbita nem sombra ou lembrança.

 
Foi isto o que escrevi, mas não mandei porque na hora em que fui endereçar a carta para o seu planeta, soube que Plutão não é mais considerado planeta. Fiquei tão indignado que plantei bananeira em frente à agência do Correio por várias horas. Quando vi, estava envolvido num manto de santo com várias pessoas pedindo para ir comigo procurá-lo em missão secreta.
 

Seu criado,
Pulmão Fidalgo



 
Este texto faz parte do Exercício Criativo
- Escrevi, mas não Mandei
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meriam lazaro
Enviado por meriam lazaro em 14/06/2010
Reeditado em 18/01/2011
Código do texto: T2318862
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