AUTOCRÍTICA I
 
 
Na crônica anterior --- AUTOCRÍTICA         --- enumeramos os três livros adquiridos para melhorar o nosso exercício de escrever bem. Afirmo ser um investimento proveitoso e útil. Dos três, entretanto, um nos chamou maior atenção: A Arte de Escrever Bem (Um Guia Para Jornalistas e Profissionais do Texto), das autoras Dad Squarisi e Arlete Salvador.
O livro é inteiramente prático e interessante, salvo seu aspecto filosófico, colidente em pelo menos dois subcapítulos às nossas pretensões quando se trata das construções literárias. Trata-se de “Persiga a Frase Enxuta” e “Seja Conciso”.
O primeiro subcapítulo, abre-o uma frase de Theodor Fontane --- “A Era Das Belas Frases Acabou” --- e o segundo, pela mesma forma, escreve-a Marques Rebelo --- “Escrever é Cortar”. Tudo em nome da precisão e da concisão.
É preciso lembrar que os ensinamentos são dirigidos para a área jornalística onde tem lá suas imposições e limitações de textos etc.
Cortar, enxugar... Na contramão da estória vem-nos, de súbito à memória, uma das admiráveis frases de M. de Assis: “Ela era minha, somente minha, unicamente minha!”, cuja construção, de rara beleza e força possessiva, espanta qualquer exigência de concisão ou de  enxugamento. É só um exemplo. Mesmo assim, ouviríamos: “Aí, é literatura!” No que responderíamos: “Não é o que nos interessa?” Está aqui a colisão apontada.
Linguagem enxuta, concisa, tinha-a E. Hemingway. Conta-se que o famoso romancista americano, “duro” em Paris, teria apelado ao seu editor nos EUA. Para tanto, selou uma carta endereçada a ele apenas com um ponto de interrogação no teor. Indignado, o editor “tascou-lhe” outra de volta contendo vigoroso e enorme ponto de exclamação. Naturalmente os dois sabiam bem do que tratavam em sua linguagem coloquial. “E o Dinheiro?” “Mande os textos, malandro!”
Mas aí são outros quinhentos! Como diria o nosso colega mineiro José Cláudio.
 
Com um abraço do Moura Vieira
 
 
P.S. – A título de curiosidade transcrevo um subtítulo também interessante para testar a legibilidade de um texto. Desenvolvido pelos americanos, foi adaptado para o Brasil pelo jornalista Alberto Dines.
 
“Se lemos algo com dificuldade, o autor fracassou” Jorge Luís Borges.
“Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, e porque um dos dois é burro.” Mário Quintana.
Eis a receita:
1. conte as palavras do parágrafo.
2. conte as frases (cada frase termina por ponto).
3. divida o número de palavras pelo número de frases.
    Assim, você terá a média da palavras/frase do texto.
4. some a média da palavra/frase do texto com o número de polissílabos.
5. multiplique o resultado por 0,4 (média de letras da palavra na frase de
    língua portuguesa.
6. o produto da multiplicação é o índice de legibilidade.
 
Possíveis resultados.
1 a 7 história em quadrinhos
8 a 10 excepcional
11 a 15 ótimo
16 a 19 pequena dificuldade
20 a 30 muito difícil
31 a 40 linguagem técnica
Acima de 41 nebulosidade.
 
Testando o parágrafo abaixo:
“Em boca fechado não entra mosca”, diz a vovó repressora. “Quem não erra perde a chance de acertar”, responde o neto sabido. Ele aprendeu que, nas organizações modernas, a competição é o primeiro mandamento. E, cada vez mais, impõe-se a necessidade de falar em público. Muitos servidores, porém, concordam com a vovó. Estremecem só de imaginar a hipótese de abrir a boca diante de uma platéia. Dizem que não nasceram para os refletores. Falta-lhes vocação. A ciência prova o contrário. Falar bem não é dom divino. Falar bem --- como nadar bem, escrever bem, saltar bem --- é habilidade. Exige treino.
 
Confira:
1. palavras do parágrafo = 101
2. número de frases = 12
3. média da palavra/frase (101 dividido por 12) = 8,41
4. 8,41 + 12 (número de polissílabos) = 20,41
5. 20,41 x 0,4 = 8,16
Resultado: legibilidade excepcional.
                                 Mãos à obra.