Faxina na Alma.

Em uma fria e clara tarde outonal de inverno,ou invernal de outono, resolveu parar e se vasculhar, revirando alma e pensamentos.

Em uma faxina interna buscou se rever/reencontrar,se reeditar e se reconhecer, afinal o tempo é de luta contra/ a favor do relógio,que dá e tira tudo, dos sonhos a vida, dos amores ás dores.

Voltou ao passado e em seu eu se reviu menina com sonhos de tudo, se reencontrou amando como nunca e se doando( se doendo) para sempre.

A paixão saltava dos olhos, exalava pelos poros, brilhava na pele, corava a face.

Toda ela brilhava tal qual estrela Aldebarã no seu próprio firmamento.

Não havia noite/dia, só aquele sentimento louco, intenso/extenso,gostoso/ guloso. Queria mais, cada vez mais.

Mas aos poucos já não se via nos olhos do outro como antes, já não eram para ela os sorrisos, os abraços, os desejos do outro que partia á cada segundo com tanta pressa que ela sem querer acreditar fingia não perceber.

Ele ia seguindo em direção oposta.

O barco de sua vida não mais atracava no mesmo cais.

A sua estrela da sorte já buscava outro pedaço de céu, suas canções antes para ela, já se calavam e acalentavam outros ouvidos/ corações.

De tanto doar-se/doeu-se, saiu ferida/abatida e marcada.

Descobriu que havia muito não pensava no assunto. Na verdade, um mote para o sofrimento que ainda estava guardado?escondido/desbotado/distraído, mas á espreita.

Ouvira dizer que o tempo apaga todo e qualquer vestígio. Mas não apagou dela/nela os rastros de felicidade/enamoramento/dor/sofrimento. Apenas e tão somente camuflou e ela foi amadurecendo, envelhecendo (ah,o tempo!)

Os cabelos castanhos cacheados foram se prateando, encurtando,perdendo a cor.

Os olhos brilhantes de outrora que falavam por si só, se opacificaram/emudeceram.

Os sonhos...já não sabia mais deles.

Apenas vivia/morrendo á cada dia, como é a lei da vida.

Sabia, intuia que o levaria para sempre no íntimo. Sua voz/alegria/sua vez/sua melodia ( que ainda agora não conseguia escutar sem chorar). Chora pensando no que foi/não foi/poderia ter sido.

Chora por ter amado tanto e com tanta força, sem perceber que a vida nos deixa marcas/traças/traços/trapos que mesmo com as faxinas da alma jamais nos abandonam.

São rendas de teias de aranha que crescem e permanecem tatuadas na lembrança.

E a lembrança nada mais é do que a saudade ao avesso. O eclipse do que fomos com o que talvez jamais venhamos a ser.

Afinal, não adinata faxinar a memória, não existe espanador/aspirador capaz de subtrair dores, sempre ficará alojado em algum lugar um resto de poeira ou uma recordação embaçada neste espelho que se chama vida.

Márcia Barcelos.

13/02/1992.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 14/06/2010
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