Jurado de morte

Cidadão pacato, relativamente pacato, hoje em dia não pode haver mansidão.

Trajes simples: calças de brim fino, do tipo bolsos aparentes, camiseta com mangas cinza, sapato mocassim bem leve. Não chamava a atenção de ninguém. Entrou num banco, fez uns pagamentos e saiu sem pressa, com a vontade de beber o chope que gostava: metade do claro, metade do escuro. Nunca tomava um só nem passava de três.

Tirou a caneta elegante e sóbria de dentro da bolsa militar, junto com um caderno de capa de couro, preto. Escreveu por volta de quinze minutos e colocou tudo na bolsa outra vez. Já estava no terceiro chope e o prato de amendoim tinha uns poucos.

Gostava de fazer isso, mas não todos os dias. Conversou alguns minutos com o garçom. Já havia alinhavado uma crônica, vendo as mães com a pirralhada, no grande parque arborizado, em frente ao simpático bar-restaurante.

Os dias de hoje não estão fáceis. Na volta para casa, encontrou um homem sorridente, que se dirigindo a ele falou como quem pede uma bisnaga na padaria.

- Vai manso, filho da puta. Vai devagar ou acabamos com você.

- Não tenho medo de vocês, seus merdas. Tentem.

O braço longo do partido tem pistoleiros conhecidos. Articulista de jornais estrangeiros, socialistas inclusive, sabia que a ameaça não era mentirosa.

O braço armado do partido é perigoso.

Chegando em casa, limpou a Walter P.38, colocou um cartucho e deu um tiro para o alto. Funcionou sem problemas.

Tinha dois carregadores. Daquele dia em diante, não andou sem mais ela.

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 15/06/2010
Reeditado em 24/06/2010
Código do texto: T2321186
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