ESSA MINHA IRRITANTE MANIA DE RIMAR

Rima. Essa é uma mania. Desde quando? Sei lá! Só sei que tudo que vejo, vou logo arrumando uma rima. Se não falo, penso. Qualquer coisa que digam, olha a rima aí, gente! Entro numa loja e já me vem. A atendente? Quebrou o dente. É o padre? Anda logo compadre! O jardineiro? Lá se vai meu dinheiro! O telefone faz trim? Será que é pra mim? Quanto é o mamão? Hum... Precinho ladrão!

Essa coisa de rima acaba virando um perigo. A gente fica condicionada. A sorte é que não falo. Fico mais só no pensar. Só que não dá pra evitar (não tô falando? Sem querer já rimei pensar e evitar). Mas vamos lá! Encontro a Gabriela? Gabriela, tagarela, não sai da janela, boca de gamela, caiu na esparrela. Cidoca? Lá vem a Cidoca de cara de foca, que nunca se toca, fazendo fofoca. A Maria? Já me deu uma azia, meu Deus que agonia, estragou o meu dia. Dona Vicença? Ai Jesus, que descrença, só pensa em doença, por favor, dá licença! E por aí vai o ingrato vício de rimar...

No começo, palavras. Depois frases. Das frases pras trovas, um pulo. Aí, é trova a torto e a direito. Já estou nesta fase, acho. Outro dia fui ao médico. Uma dorzinha chata no braço. A sala de espera? Adivinha... Lotada! E a consulta não chegava nunca. Alguns foram ler.

Outros ouvir música. E eu? Fui fazer trovas, é claro! O quadro na parede foi a primeira vítima. “Enquanto o tempo passa/enquanto o relógio roda/pela frente vou olhando/um quadro fora de moda”. Nossa, um quadro fora de moda? Quê isso? Sei lá, nada não, é só pra rimar mesmo...

A consulta era às 14h. Fui atendida lá pelas 17h. Capaz de ter feito umas trezentas trovas. Rimei o povo todo que tava lá, as cortinas, as janelas, as paredes, a mesinha, o arranjo de flores, as revistas, a luminária, o mofo do teto, um pernilongo que passou voando, um vaso de planta, os ladrilhos, as cadeiras, os pés da cadeira, e por fim, uma trova bem desaforada para o médico-tartaruga que não me chamava nunca! Tudo mentalmente, lógico...

Seria pela trova desaforada? Não sei. Mas enfim, gritaram lá de dentro “Marina”. Levantei-me. Não sem antes, dizer a mim mesma “Marina, bailarina, gasolina...”. Sento-me diante do doutor. Depois de atender uns duzentos, ele tá cansado. Boceja “E aí, quê que você tem?”. Hã? “Eu tenho uma dor no braço/ e tá doendo pra valer/ agora, que dor é essa/ deixo pro senhor dizer”. Como? Meu Deus, virou trova! Daquelas bem cantadinhas, pode?

Ele faz uma cara de lunático. Ou a lunática sou eu? Sei lá... Também depois de uma espera de 3h, rimando numa sala de espera já não sei mais nada. Como bem diz certo jargão em voga “Ninguém merece”, né não? Nem eu...

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Com revistas tão antigas,

e reportagens rasgadas,

as dores ficaram amigas

e as vistas estragadas

(PWVargas)

(Olha aí, Vargas, uma trova pra ninguém botar defeito! Adorei!!)

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Minêra, ocê num sabi

Qui tomêm tenhu a mania

Di buscá rima qui cabi

Na minha calegrafia

Vô rimânu toda hora

Inté achei rima agora

Pr'essa crônica, m'a fia!

(Milla Pereira)

(Obrigada, Milla, que interação linda por demais, gente!!)

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Marina, quem diria...

Quanta gente, isso faz

Vai rimando pelo dia

Vem a noite e rima traz

E quem é que não se apega

Nessa deliciosa mania

Da rima que não se nega

Sem qualquer monotonia?

(Cristina Jordano)

( obrigada, Cristina, linda interação!!)

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Se o negócio é mesmo rimar

Desse assunto a gente trata

E sendo para improvisar

Vou até Lagoa da Prata

Vendo a poetisa Marina

Mineira que me fascina

E de paixão ainda me mata!

(Pedrinho Goltara)

(Que beleza de interação, Goltara! Um show de rima!)

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Busquei mil rimas

rimas pra que?

sei lá quantas fui ler

mas acho que tudo era pra você

(Carlos Neves)

(Linda interação, Carlos, obrigada pelo carinho!)