O MEU FILHO, O MEU MESTRE.

O MEU FILHO, O MEU MESTRE.

Por que o meu filho o meu mestre? Ora, pois, quando alguém me orienta, de como quer e merece ser tratado, é certo que, terá todo o meu respeito, a minha estima e a minha consideração. Ainda mais quando esse alguém é o meu filho. Com algumas exceções os pais querem sempre o melhor para os seus filhos, sonham e agem para que esses sejam inseridos nas melhores organizações e tenham as melhores oportunidades.

Eu como pai, acabo de sair da posição de “Mestre”, para a digna posição de aluno. Agradeço esta oportunidade que a vida me ofereceu, pois com ele, meu filho, aprendi que ser pai, além de muitas outras responsabilidades é também ser um eterno aprendiz.

Aprendi a aceitar novas idéias, novos modelos e até novos direcionamentos no que tange ao comportamento familiar.

Ao longo do meu caminhar acumulei medos, preconceitos e prepotência, que me envolveram em uma carapaça de proteção e desta posição procurei defender aqueles que são parte integrante do meu núcleo familiar, como se eu servisse de anteparo entre o bem e o mal.

Como homem, amigo e pai, carrego nessa carapaça, velhos paradigmas provenientes dos hábitos e culturas dos meus ancestrais. Ao mesmo tempo em que provoco reações adversas, esses medos, preconceitos e prepotências, aos quais chamo de - substantivos depressivos - me causam pavor.

O meu filho acaba de graduar-se em música, (licenciatura), pela UFRJ, uma das melhores universidades do nosso país e me regozijo por isto.

Em uma sexta feira qualquer, paramos para um bate papo informal, em meu quarto de dormir, por volta das vinte e duas horas. Eu com a minha pretensa sabedoria sugeri que ele fizesse outro curso, para que ampliasse a sua visão, sobre o mercado de trabalho. Minha sugestão era em favor de um Mestrado ou mesmo um MBA, que lhe desse novo dimensionamento de outro seguimento profissional.

De pronto ele rechaçou. Falou-me que não pretendia por enquanto fazer qualquer curso que viesse lhe tirar o tempo. Precisava viver a vida. Necessitava trabalhar sim, como já vinha fazendo, mas que o trabalho, não viesse tirar-lhe o tão precioso tempo, necessário para pensar em como ganhar dinheiro e propiciando-lhe melhor qualidade de vida.

Movido pelas sombras dos – substantivos depressivos, - procurei argumentar sobre as decepções com as quais nós pais, nos deparamos ao longo de nossas vidas. Comentei da facilidade que é perder o que se adquiriu e, em pouco tempo terminar na sarjeta. Expus todos os meus temores, todas as minhas angustias, todos os tipos de mazelas que interferem em nosso caminhar e, porque não, os recalques represados no inconsciente, adquiridos do acondicionamento de repressão a que fomos submetidos, em um dado período, por uma sociedade de imposição, nos melhores anos de nossas vidas.

Ele escutou atentamente e me falou: - isto está apenas em sua cabeça. Esses “substantivos depressivos”, não me assustam e não me metem medo. Eu preciso de tempo para descobrir o caminho que me leve ao topo da minha vontade; para que esta me conduza ao lugar onde eu possa sentir o prazer com o fazer; como fazer e para quem fazer, garantindo assim, o retorno econômico, financeiro e social, sem ter que abrir mão da vida que eu espero ter.

Parei por algum tempo e refleti sobre a nossa conversa. Conclui que ele pode estar certo na sua maneira de ver e sentir a vida, de ver e sentir o mercado de trabalho e definir qual a melhor maneira de nele se inserir.

Perguntei-me quem poderá me afirmar se estou certo das minhas convicções da inserção no mercado de outra categoria profissional? Quem poderá afirmar se foi correto ou não o caminho seguido por mim, a não ser eu mesmo? Quem poderá em sã consciência dizer que a visão alcançada por meu filho, não faz sentido? Nem eu nem você e ninguém, a não ser ele o ente capaz de diagnosticar os erros, os acertos e os ajustes que poderá fazer ou não, para que os seus projetos alcancem o êxito esperado, ou mesmo abandonar o caminho iniciado, para o recomeço de um novo trajeto.

Por último conclui que como amigo me disponho a contribuir com as idéias levantadas por ele; aperfeiçoá-las se isto se fizer necessário e for da vontade dele. Como pai, fico torcendo para que o melhor aconteça. E assim sendo, aprenderei que os sonhos que hoje são difíceis para mim, não passam de objetivos mais que realizáveis para ele.

Minhas desculpas se de certa forma interferi tentando abrir outra opção de carreira, que não a sua. Tenha de uma coisa a certeza; aqui estarei para aplaudir cada degrau alcançado por você na sua trajetória.

O meu amor é incondicional, a minha admiração será constante e você os terá sempre. Conte comigo. Seu amigo, seu pai.

Rio, 14/06/2010

Feitosa dos Santos