Se o dia é dos namorados, a noite é dos solteiros!

Ela era a mais convícta da dúvida entre a solteirísse e o companheirismo. É isso mesmo, convícta na dúvida. Enxergava as vantagens de ambas as situações e, encaixando-se no conformismo - sempre feliz porém nunca exultante -, por estar solteira, preferia ressaltar as benesses desta condição.

Com o dia dos namorados no calendário, não exitou em compartilhar do lema de sua "classe":"Se o dia é dos namorados, a noite é dos solteiros!". E, empolgada, preparou-se para a noite que julgava ser sua.

Passou a tarde nas ruas, de loja em loja: roupas, acessórios, perfume! Quem sabe não seria a última vez em que comemoraria a noite e não o dia 12 de junho. Afinal, bem sabia que, aqueles solteiros de carteirinha que encontraria a noite, lamentavam todos, mesmo que discretamente, não ter companhia para este dia, ou noite. Um lanchinho no shopping, um breve sono restaurador e começa a produção. Enfim, era a hora da festa.

A casa estava cheia, mais tarde saberia que a lotação havia esgotado. Porém, os rostos que não eram conhecidos eram jovens demais para ela. Não que fosse velha, mas a experiência a tornara exigente. E, como bem sabia, os homens são como frutas, quanto mais maduros, mais doces.

Dançou, viu e conheceu várias pessoas. Porém ninguém lhe despertou nenhum desejo diferente. Até que, aquele velho conhecido apareceu. Ah! Ele era lindo! Lindo não, mas bonito e muito charmoso. Ele, ela já tinha visto, revisto, conhecido e se aproximado várias vezes. Ele já havia a pedido em namoro e em casamento. É claro, brincando. Porque se fosse sério, ela já teria aceito. Por ele, ela já tinha deixado escapar: "Com ele eu casaria, é o tipo de homem que se amarra ao pé da cama!", por ele, a dúvida estava resolvida, com ele, solteirisse nunca mais.

Ele ainda não a tinha visto, precisava se fazer notar. Isso! Uma conhecida estava perto dele, este era o momento certo de cumprimentá-la. Mal chegou até a moça, e sentiu um pulso firme segurando o seu braço: era ele.

Ele, como bom galanteador que era, declarou logo estar com saudades. E (para o delírio da torcida de leitores), disse que ela estava linda mais do que nunca, parabenizou-a e continuou dizendo aquelas coisas que todas as mulheres adoram ouvir. Ela, em pensamento, agradecia a tarde de provas de roupas e todos os atendentes atenciosos que haviam auxiliado na escolha do que compusera aquele look que ele tanto elogiava.

Seu cabelo. Seu cabelo era o maior orgulho dos últimos tempos, crescera como planta regada a carinho. Todos faziam comentários aprovando. E ele não escapava a regra.

Um amigo o chamou. Os amigos solteiros sempre desgostam da possibilidade de um relacionamento. Compreensível. Solteiro faz companhia pra solteiro; enamorado abandona os amigos pra fazer companhia pra enamorada. Mas ela sabia, ele voltaria.

Suas amigas se aproximaram, elas a conheciam, e reconheciam aquele brilho nos olhos. Não, ela não era ingênua. Sabia que aquelas palavras não eram pensamentos que escapuliam boca afora, mas que eram cuidadosamente selecionadas para o jogo da sedução. Mas iludir-se é agradável, preferia acreditar que eram verdades maximizadas, talvez fossem mesmo. Ela sorria. A noite prometia.

- Ai, que nojo!

Apesar da música alta, muitos ouviram seu grito de desespero. Sua amiga assustada logo percebeu o que aconeceu e tentou acalmá-la:

- Calma, é só refrigerante.

Com enorme repulsa teve que discordar e confessar para a amiga:

- Não! Não é refrigerante: está quente. Vomitaram em mim! Maldita boate de dois andares!

Depois de muito empurra-empurra chegaram até o banheiro. Avaliação final, no claro, em frente ao espelho: cabelo - aquele admirável cabelo - e costas da blusa sujos daquela meleca que saíra de algum porco bêbado. Rosto? Maquiagem borrada pelas lágrimas nervosas. Fim de festa.

No carro, indo para casa, sonhando com um demorado banho quente, seu pensamento divagava: "malditos vendedores, me fizeram gastar horrores por nada! Maldita criatura que enfiou aquele mesanino na boate! Nunca mais vou lá! Maldito solteiro que bebeu pra consolação e acabou com minha noite! Bendito amigo que tirou ele de perto de mim naquela hora!" Ele... havia esquecido. Ah, ele... Estava decidida, próximo final de semana, roupa nova bem linda, produção caprichada e boate novamente! Ele vai estar lá...