Ei! Não te conheço? - Crônicas curtas -

Pego o ônibus todo dia às 7:30, tudo ocorre na mais simples normalidade. Sento-me na poltrona 25, janela, e eis que ao meu lado, um homem que aparenta seus 35 anos. Até ai tudo bem, mas ele me olha como se já me conhecesse há muito tempo, e vem para um cumprimento que, se eu não me esquiva-se, seria um abraço seguido de um aperto de mão. Ficou só no aperto de mão.

- Beto? Beto matador é você rapaz, quanto tempo! Olha só, quem diria hein, e como vão as coisas?

Juro que nunca, em toda minha vida, tinha visto o semblante dessa figura, e mais ainda, Beto? Meu nome nem de perto sugere um apelido de Beto, tão pouco Beto Matador. Mas para não perder o rebolado e só pra ver onde essa história iria parar cumprimentei:

- Fala rapaz, quanto tempo! O que tem feito? – Numa hora dessas não me arriscaria qualquer nome.

- Estou na mesma, como sempre. Tem visto a turma?

- Faz tempo que não vejo ninguém daquela época, e você tem visto?

- Ontem mesmo encontrei a Mariana, continua um espetáculo. Só você mesmo, “matador”, como conseguiu, conta ai. Ainda lembro muito bem, era 25 de julho de 88, frio pra caramba, era a festa do Camargo. Que noite, que noite, pra você é lógico. Apelidamos de dia “ I “ de inesquecível.

Juro que não me recordo de nenhum nome ou fato parecido. Mas se ele notou bem minha expressão, já deve saber que se enganou, mas não vai dar o braço a torcer. Vou entrar de sola:

- E a sua irmã, a Patrícia casou com o José Flávio? – Agora ele não me escapa!

- Já faz um tempinho, tem até dois filhos, o Junior e o Gustavo. – E você, solteiro ainda?

- É, só estou aproveitando, (agora ta no papo, ele sabe que errou e está ficando perdido, esse vai pra casa com a cabeça fervendo).

- Pois é você sempre foi de curtição mesmo. Quem mandou um abraço pra você foi a dona Mariquinha, diz que ta com muita saudades, lembra dela?

Agora a coisa apertou, tenho que sair dessa com categoria.

- Lembro sim, adorava seu pão de milho com manteiga derretida, lembro que você não saia da mesa enquanto não terminasse todos os pães. E ficava sempre de olho na filha dela, como era mesmo o nome? – Agora peguei ele, vai cair a máscara...

- Opaa, é o meu ponto, to descendo, mas foi um prazer te reencontrar, manda um abraço pra todos que encontrar, tchau!!

Venci! Uma batalha entanto. Agora deve estar indo pra casa cheio de dúvidas e morrendo de vergonha. Há, há , há. Não vai dormir tão cedo, só pensando no assunto.

Hummmm, 25 de julho? Camargo, Mariana... dia “ I “...caramba , como era mesmo no nome desse cara?