A BANALIZAÇÃO DO SEXO...

Que a prostituição é a mais antiga das profissões não institucionalizadas todos nós sabemos. Mas que o 'trabalho' desenvolvido numa cama pode curar feridas de guerra é uma coisa tão nova, quanto são as perplexidades que observamos no mundo moderno, quando o assunto gira em torno da banalização do ato sexual. Quem abriu o site da Globo no dia de hoje se deparou com a notícia de que uma Japonesa (atriz pornô) se dispõe a pagar em atos sexuais a vergonha que tem dos seus antepassados por terem praticado atos selvagens na conhecida Guerra Sino-Japonesa, que redundou na invasão Japonesa na China no ano de 1937. Você deve estar achando tão absurda a forma de reposição do prejuízo quanto eu.

A dita cuja oferece graciosamente seu corpo para os jovens chineses que estão em Tóquio para estudar. Disse ela:"Temos que respeitar a história e, embora não consigamos mudá-la, temos que tentar recompensar os chineses", argumentou a professora. "Quero curar as feridas da China com o meu corpo e estou me oferecendo para fazer sexo com estudantes chineses que estão no Japão". Cá entre nós: Será que ela não tem algo mais valioso para dar aos chineses, afinal, trata-se de uma atriz de filme pornô? Bem, ocorre é que são dos absurdos que vivem as banalidades. Assim, para ela, não é o programinha sexual que lhe é útil como alavanca nessa questão bélica do passado, pois o que ela realmente deseja é se tornar uma celebridade diante de uma questão tão insólita, no que diz respeito à história de conflitos entre os povos.

O curioso é que se ela fizesse um livro com poesias e com memórias e os publicasse com homenagens aos chineses, dizendo que sua pretensão era o reparo dos males que seu povo fez com os chineses no passado, certamente que a atitude ficaria no descaso e não tomaria nenhuma dimensão como notícia. Esta aí uma questão relativa à subjetividade do ser humano que nunca entenderemos. Por que uma notícia tão inconsequente, pode tomar rumos mais abrangentes que uma notícia de valor transcendental muito maior? Temos tendência a valorizar o vulgar? Não creio. O que chama atenção dos seres humano é tudo aquilo que nós costumamos chamar de extraordinário. Aquilo que inova. Aquilo que surge primeiro. Aquilo que choca. Aquilo que aparece do nada. Aquilo que vem acompanhado de mistérios. Aquilo que vem surtido com traços de perplexidade, porque em certos casos não se trata de algo bom, mas de atitudes que ferem a moral, ataca os bons costumes e todas as regras sociais que estamos dispostos a preservar.

Esse caso leva às ponderações que cada um tem do vulgar e do banal. Não se pode conceber que há uma intenção séria nesse tipo de reposição moral, já que o ato sexual não é algo mercantil, quando considerado substrato do amor. Essas relações íntimas são mais profundas e mais significativas na vida das pessoas quando executadas com o coração e não como mera atividade de gozo ou lazer. Quem garante que os jovens chineses irão se sentir satisfeitos ou desculpados, depois que tiverem atingido o orgasmo? Não se trata de algo que se executa e se concretiza como um monumento feito em praça pública. Logo, logo, alguns deles vão procurar a atriz e dizer em tom pedinte: - Preciso de mais provas de que você realmente está querendo repor os prejuízos dos passado. Nossos antepassados clamam por intensas atividades sexuais, para as quais a referida atriz deveria estar disposta a ceder em nome da causa nobre que diz estar repondo.

Evidente, que alguém com boa intenção não iria querer se valer do corpo da tal atriz pornô para resgatar sua história. Aliás, ela própria sabe disso e tem consciência de que não se trata de meio adequado para oferecer como meio de suprir uma questão tão delicada, com feridas profundas. Coitadas daquelas pessoas que foram atingidas com a guerra e que ainda possam estar vivas, pois jamais poderão usufruir do bem oferecido como recompensa. Assim, a intenção da dita Japonesa não é efetivamente cumprir um papel nobre na história, mas sim despertar a todos para o assunto, embora o faça de maneira extravagante e inusitada. Nesse sentido, acho louvável. Entretanto, determinados assuntos não pode se mostrar refletidos em fatos de nobreza, por serem incompatíveis para tanto, porque acabam se tornando uma apologia à prostituição e ao desvalor de vender o corpo.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 18/06/2010
Reeditado em 18/06/2010
Código do texto: T2326865