POEMAS MÍNIMOS - LUIZ GUERRA

“Que seja guardado

a firme letra, e o Existente

Bem interpretado.”

Hölderlin

Sou convidada à leitura. O mar virtual oferece as ondas e define os horizontes em renovadas janelas. Aporto no blog “Poemas Mínimos” de Luiz Guerra (http://luca.zip.net) e encontro verdadeiros motivos para navegar. A intensidade dos poemas em três versos dá o ritmo às grandes jornadas. A narrativa plena da vida é interpretada nas perspectivas do “eu”, poeta e protagonista, dividido entre o sonho e a realidade.

Os títulos surpreendem. As palavras são máscaras reluzentes que alimentam as fantasias. Busco significado no dicionário e não encontro. A verdadeira poesia não é tão clara. A linguagem metafórica costura na obscuridade a fonte para os clarões originais de conhecimentos. Os versos reverberam e escrevem novas emoções no cotidiano. A sensualidade desenha o arrepio no corpo, a linguagem do prazer eivada de poesia. Sedução? Talvez o novo significado de uma palavra desconhecida.

[Buridã]

mal sabem da minha sede

os teus lábios,

da minha fome os teus pêlos

O poeta é o ser em eterna busca e se surpreende com o que revela. Desejo? Saudade? Os versos são enigmas a serem desvendados por cada um. Retratos de vivências, projeções de sonhos... Não defino o que intitula o poema, apenas deixo-me dar continuidade ao enredo. A nostalgia tênue é apunhalada pela passionalidade expressa no “Recado”. Os véus da fatalidade dão novos perfis aos sonhos no compasso flamenco. Carmem surge desafiando os interditos no imaginário do amante. Punhais rasgam o erotismo:

sonho-me em sevilhas de sonho

emaranhado em amores de carmens

ciúmes e punhais dementes

Ler é se descobrir em plurais espelhos. Interpretações, palavras, imagens... Êxodos obrigatórios! O cotidiano resseca o solo e já não alimenta. O poeta se entrega ao caminho e percebe os contrastes.

[Êxodo]

viu o caminho e a paisagem

viu o deserto e o degredo

viu os jardins, viu os tormentos

As imagens atestam nossas trajetórias. Assumimos a co-autoria, apropriamo-nos do verbo em todos os tempos possíveis. Lembranças e presságios. Conjugo as profecias: verei os jardins, verei os tormentos... A paisagem se confundirá com a beleza e o horror e será o acaso do caminho ou, quem sabe, o destino...

[Baruch]

manto rasgado pelo cego punhal dos profetas

ódio de escuros céus

atrás do espelho

Sem palavras. Escondo-me sob a imagem coberta pelos tantos véus. Deixo as possíveis interpretações resgatarem as percepções mais íntimas no espelho vendado pela fúria divina e apunhalado pelos ódios enigmáticos. Costuro os versos e retorno à realidade ainda envolvida em sonhos. O vazio é compreendido em uma nova palavra desconhecida. Uma colcha é cerzida com os versos já entranhados:

[phármakon]

rendeira de bilro

teço os vazios

da tela roída de sonhos

Poemas mínimos que gritam os abismos e os vértices. Na triangulação de vivências, aproprio-me da hipotenusa e deixo os catetos alicerçarem as realidades e os sonhos encontrados nos versos de Luiz Guerra. A leitura dos “Poemas Mínimos” é um trajeto obrigatório para os que buscam verdadeiros caminhos. Um novo amanhecer é escrito no “diário de bardo”:

Hoje sonhei com o cão do andarilho

Farejando o meu sonhar

E os meus segredos

Convido todos os leitores a mergulharem no oceano poético de Luiz Guerra.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 24/01/2005
Código do texto: T2330