Ser imanente me leva a Amar a Natureza
 
     De alguma forma, todos já experimentamos situações de medo, de dúvida ou de algum rancor.


     Somos humanos. Sentimos medo, temos dúvidas, e algumas vezes somos tomados pelo rancor, e isto é natural. O que não é natural é vivermos no medo, sermos continuamente divididos pelas dúvidas ou remoermos visceralmente os rancores com ódio e negatividade. Devemos viver para cima, positivamente. Devemos buscar construir caminhos éticos, e dividi-los com nossos semelhantes. 

     Devemos buscar esquecer as mágoas e os rancores que nos tolhem a mente e nos separam de nossa felicidade. Quando trabalhamos por um objetivo digno, sobra-nos muito pouco tempo para gastar com nossas mágoas, assim elas se vão, pela falta de importância que damos a elas. 

     Devemos descobrir racionalmente que decisões tomar, quando cercados pelas dúvidas, uma vez que estas sempre estarão a espreita para nos colocar em cheque.

 
     Não devemos confundir “dúvidas”, aquilo que nos divide e nos dificulta caminhar, com “duvidar”, não acreditar. Aquele faz parte de nossa consistência mental, este é necessário. Duvidar deve ser um principio, até que tenhamos evidencias para crer. Não devemos acreditar pelo simples fato de alguém falar, muito menos porque simplesmente esteja escrito, revelado ou intuído.
 
     Buscar evidências é um ótimo caminho para encontrarmos o conhecimento. Ser cético, sem ser dogmaticamente cético, ajuda-nos a construir nossa capacidade de melhor perceber o mundo, e indiretamente nos ajuda a construir uma base de princípios, conceitos e conhecimentos, que nos ajudarão nos momentos de decisão, como que iluminando nossa mente na escolha do caminho a seguir nos momentos de dúvidas. 

     Devemos enfim saber que o medo é uma das nossas defesas evolutivas, e devemos usá-lo a nosso favor. Com consciência, devemos perceber que o medo gratuito é desprezível e desnecessário, mas que o medo verdadeiro pode ser, e muitas vezes é, a nossa pedra filosofal que nos diz o que, e o como devemos nos comportar em uma dada situação. Agora, deixar que o medo nos destrua, que nos obscureça a mente, é uma fraqueza que devemos racionalmente superar. O medo é nosso aliado, e não deve ser nosso inimigo. 

     Por mais humanista que eu seja, acabo sendo muito mais materialista do que humanista, mesmo que secular. Não acredito que alguém consiga ser totalmente e continuamente uma única linha filosófica, somos muito complexos, nossa mente é um emaranhado de determinação e aprendizado.

 
     Acabamos tendo mais de uma “pessoa” em nosso repertório mental. Assim desconfio imediatamente dos que se afirmam cem por cento alguma coisa. No geral me qualifico como materialista, humanista secular, com boas pinceladas céticas, amante da vida em toda a sua diversidade de reinos e espécies, e alguém que busca dentro de seus limites, encontrar o equilíbrio entre os desejos e uma ética que dignifique a nossa existência, entre uma felicidade individual e a felicidade coletiva, uma vez que somos seres sociais.
 
     Assim não consigo acreditar, muito menos aceitar, a tão badalada falácia, pelo menos para mim, de que somos melhores ou que sejamos os verdadeiros herdeiros deste mundo, razão de ser do planeta terra, e outros pormenores.
 
     Deixa-me perplexo como a presunção humana, pedante e fútil, nos leva a acreditar que somos superiores, Me incomoda como a vaidade nos enche de orgulho mesquinho, de nos acharmos acima de tudo. Como a mente pequena nos faz nos ver como uma obra de arte máxima. Me é repugnante ver que acreditamos que por sermos melhores, tudo na natureza deve estar abaixo de nossa existência, que enfim tudo existe para nosso requinte de vaidade, para nossa perversa ganância e para nossa trágica existência. 

     Sempre que me refiro a ser materialista, percebo nas pessoas, não em todas é evidente, mas em um bom número delas, inclusive em minha própria família, e até mesmo entre aqueles que privam de minha maior intimidade, aquela reação de que materialista é um ser desprezível, antiético, que apenas foca o vil metal, bens, prazeres fúteis e irresponsáveis, riquezas, e que descarta facilmente a humanidade em troca de sentimentos apaixonados de poder, luxuria e riqueza.

     Fico desapontado como a pobreza cultural atingiu este estágio. Muito pior ainda é a prepotência humana de pré conceituar uma pessoa, ou mesmo uma linha filosófica sem o mínimo conhecimento de causa, desconhecendo os princípios que norteiam e que dão sustentação a movimentos filosóficos como o Materialismo, o Humanismo Secular, o Ceticismo ou até mesmo o ateísmo.

     Peço desculpas aos filósofos de plantão, mas entendo o materialismo como uma forma de perceber que no universo, como na vida, o que expressa causalidade é à matéria. Defendendo assim a existência apenas do imanente.

 
     Se algo existe, ou apresenta algum fenômeno, este algo e a representação do seu fenômeno têm que se dar no corpo da natureza, não existindo o transcendental, muito menos o sobrenatural.
 
     A natureza é nossa causa primeira e razão última de existirmos. Do Átomo à inteligência, do micro ao macro, do quark à consciência, do físico ao biológico, do químico ao social, tudo da matéria depende e dela decorre, direta ou indiretamente.

     Quando ouso falar em matéria, é óbvio que falo também da energia, uma vez que ambas são parceiras íntimas e inseparáveis. Energia e matéria são ambas uma entidade natural, sobre duas formas variantes de apresentação. Energia e matéria são mutuamente representadas pela fórmula E=MC2, que demonstra a dualidade energia/matéria, sendo a energia apenas a matéria em seu estado de latência, e a matéria a energia em seu estado de repouso.

 

     Ser materialista é tão simplesmente crer na natureza em toda a sua beleza, grandeza e complexidade, é não crer em nada sobrenatural, ou seja, não crer em nada que transcenda ao escopo universal do natural. É não crer em deuses, ou em nada que esteja acima da mãe natureza.

 
     Ser materialista não tem nada a ver com princípios econômicos ou sociais, não é ser de direita ou de esquerda (apesar do materialismo dialético), NÃO É SER CAPITALISTA OU COMUNISTA, não é defender a democracia ou a ditadura, tão pouco significa sem bom ou mau, ser ético ou antiético, ser digno ou indigno, buscar sua dignidade ou viver à custa de sua animalidade, construir valores éticos ou entregar-se a um niilismo pedante, ganancioso e destrutivo.
 
     Ser Materialista é dar credito a matéria real de que somos cria, é dar total importância a vida que nos cerca uma vez que ela é material. Ser materialista é também entender que enquanto humanos, nossa matéria nos separa unicamente pela nossa humanidade, e é a ela que devemos buscar, construir e encontrar.
 
     Ser materialista é dar valor ao cosmos, a via láctea, ao sistema solar, a terra, a vida em toda a sua esplendorosa variedade, as células, as moléculas, aos átomos, as partículas subatômicas.
 
     Ser Materialista é dar valor a inteligência, a razão, a sociedade, as pessoas, ao neurológico, ao biológico, ao bioquímico, ao químico, ao físico-químico, ao físico, ser materialista é tão simplesmente acreditar que tudo que existe é matéria ou é energia, e que da natureza provem.

     Ser simplesmente materialista não qualifica uma vida, mas pelo menos passa o sentido maior da importância que nosso planeta deve ter, da importância que deveríamos dar a vida como algo único e maravilhoso, da importância que a sociedade humana deve ter, e finalmente da importância que toda a biosfera terrestre tem para manter a vida pujante de uma matéria naturalmente bruta.

Assim, antes de menosprezar o materialismo, cada um deveria fazer uma verdadeira reflexão e perceber que mais faz pela vida e por este planeta aqueles que mais valorizam a vida e a matéria, por saberem que dela vieram, e que possuem apenas uma vida, sem direito a retorno ou a um jogo revanche, para construírem algo de digno, para marcarem indelevelmente sua passagem rápida por este planetinha maravilhoso, pequeno, escondido, mas um dos lugares onde a vida floresceu e nos permitiu existir.
 
     Quanto a um princípio de vida sou Humanista secular. Creio no AMOR acima de tudo, na ética e busco encontrar nossa humanidade dentro de meu ser.
   
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 20/06/2010
Código do texto: T2331129
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