Copa do Mundo - Diário de um torcedor (IX)."É gol/ Mas que felicidade!..."

Copa do Mundo - Diário de um torcedor (IX)."É gol/ Mas que felicidade!..."

Em 21.06.2010 - Eu havia dormido logo após o início da partida do Brasil contra Costa do Marfim. E credito tal fato ao relaxamento que se se seguiu, à ansiedade da longa espera pela partida, acompanhando o noticiário esportivo, em todos os canais de TV que podia, e não, às cervejas que tomei antes do início do jogo, já por conta da minha fé na vitória...

..........................

Todo a magia do futebol se revela num momento breve, encantado e especial, em que todos os esforços coordenados e todos os sonhos se convergem, para se encontrarem, uníssonos, na trajetória que a bola descreve, desde o chute até o mergulho no fundo das redes.

A variedade de formas em que este momento se realiza está ligado ao universo das possibilidades, decorrentes da soma de muitas e diversas variáveis envolvidas. Mas, em qualquer coordenada geográfica que tenha lugar, o gol cataliza e, expande a energia de sonho, criação, movimento e extase, que se espalha numa onda radiante, desde o estádio.

No jogo em que o Brasil derrotou a deficiente e violenta seleção da Costa do Marfim, Luiz Fabiano marcou um gol superior, que ingressou direto na categoria dos mágicos e fantásticos, daqueles que poucos jogadores tiveram a chance de marcar - ainda mais, no mais prestigiado de todos os torneios de futebol realizados na Terra...

Num desses momentos em que a chama da genialidade percorre a mente do atleta e sua mente a transforma em fluxos muscalares e movimentos perfeitos, os deuses do esporte confabulam longamente entre os centésimos de segundos que transcorrem, para lançar os desígnios, no momento em que as teias do destino se estabelecem e tudo dá certo, Luiz Fabiano fez um gol inesquicível e, que está sendo considerado por muitos cronistas esportivos como um dos mais belos dos tentos já marcados em Copa do Mundo, pois, malgrado a acusação de utilização intencional e sucessiva do braço esquerdo e direito, fez um lance miraculoso, deu dois chapéus em diferentes adversários, utilizando a perna direita e, disparou um canhão contra a meta marfinesa com a perna esquerda, fazendo um gol espantoso, de tão perfeito e belo.

Ele, que circunstava entre os atletas "discretos" e, não percebera que, na África do Sul, a bola, seu instrumento de trabalho, havia ganhado nome, e com ele, uma espécie de vida - senão, de alma de pássaro e, e a destratou publicamente! Mas, a sensível "jabulani", notara que ele trazia em si o rastro do fogo dormente que só os craques e predestinados carregam e, após um jogo resolveu perdoá-lo, e tornou-se sua companheira solícita e apaixonada, entregando-se completamente à sua vontade, colando-se aos seus pés e corpo, cumprindo ordens, subindo e descendo, sublimando peso, velocidade e direção, até a hora de romper a espera e, ver-se despachada jubilosamente para a meta feito águia silenciosa, num tiro potente e indefensável...

Agora que a multiplicidade de ângulos e a "super-câmera lenta" nos permite fazer as próprias conjecturas sobre o que ocorre em determinados momentos do jogo. Entrementes o balé dos movimentos frenados, podemos enxergar diversos detalhes. Por exemplo: quando Luiz Fabiano saltou para a disputa inicial da bola - do que decorreu a amortecida involuntária de sua amante em seu braço esquerdo, o juiz estava longe da jogada e, o bandeirinha não podia ver o que sucedia no campo ulterior à sua visão. E, depois do primeiro chapéu no adversário, o juiz não poderia ver o jogador brasileiro dar uma forçada e ajeitar a bola com o braço direito, pois Kaká cruzava à sua frente, naquele momento... Mas, precisamos de descer a esses detalhes?

Com a lentidão dos movimentos, podemos ver que o rosto do atancante assumiu um ar quase sobrenatural, onde os sinais e emoções desapareceram, ficando apenas a transparência do olhar e movimentos, e a determinação de chegar ao gol. Logo depois de marcar o ponto, ele corre para uma câmera de TV e, só aí, a sua face voltou a exibir novamente as marcas dos sentimentos humanos, que retornam aos poucos, depois da vertigem so sucesso...

..........................

Os olhos de Maradonna (com dois enes, como já sabem), parece que se ressentiram do brilho do gol marcado por nosso craque, como bem denota o fato de ter ido mais tarde a uma entrevista coletiva usando óculos escuros, ainda que enfeitado com brilhantes, mesmo sabendo, por experiência própria que, a luz emitida pela jóia imaterial perpetrada por Luiz Fabiano, excede ao valor das outras, eis que mergulha no mundo dos mitos, fantasias e memórias da humanidade.

Ele tomou a patética iniciativa de diminuir a importância do gol marcado pelo nosso craque, denotando, talvez, que já tem consciência de que aquele famoso gol marcado com a mão contra a seleção inglesa, no México, na copa de 1986 - do qual ele gostava de jactar-se com um ar irônico e algo cafageste, agora ficou parecendo uma espécie de rascunho, de ensaio, destinado a inspirar os craques do futuro, para a realização de uma jogada assombrosa.

Sendo o dono façanha, é um craque brasileiro - oh, oh!, temos mais um motivo para alimentar a briguinha de vizinhos de que fingimos detestar e, ter motivo impagável para provocar os argentinos também nesta comparação sem-vergonha: em matéria de gols com a ajuda de expedientes travessos, nós podemos mais...

......................

Mas, coisa feia: após a vitória, Dunga, que a esta altura já é um técnico respeitado e vitorioso, transformou uma entrevista coletiva numa baixaria inédita, ignorando o papel da imprensa na cobertura das atividades da seleção brasileira (que, não é de propriedade dele, nem da CBF) e, da Copa do Mundo.

Depois dessa, estou com a impressão de que o nosso técnico tem o nome do personagem errado, pois está mais para "Zangado".

Falando nele, li em algum lugar que ele está vestindo roupas criadas por um famoso estilista brasileiro. O que acho: mau negócio - para os dois.

........................

Neste jogo, pudemos constatar que o entrosamento e a presença em campo de parte da seleção canarinha ainda é um trabalho em progresso e, que ela pode ir bem mais adiante.

Mas é notável o avanço no conjunto, do entrosamento de jogadores e setores, da ocupação do campo de defesa e ataque (esta especialidade que os brasileiros fazem de uma forma algo dissimulada)e, ainda da capacidade de candenciar o jogo - qualidade que enerva 9, de 10 seleções que enfretam o Brasil, há decadas!

Robinho estava muito marcado, mas estava presente em campo (se safando da pancadaria). Kaká finalmente despertou, fez diferença nas armações de jogadas, no ataque (umas das quais, resultou o golaço de Elano). Lucio esteve numa noite inspirada, nos desarmes e lançamentos de bola no ataque e, Felipe Melo ocupou definitivamente o seu espaço, na equipe.

Procurei no gramado a seleção da Costa do Marfim de que falava a imprensa especializada e, não achei. Nem mesmo o brilho dos talentos individuais parecia estar ali.

Desde o começo, o único talento que exibiam parecia ser o de dar pancadas e fazer provocações. E depois do segundo gol, perderam o equilíbrio emocional e partiram para um espetáculo vergonhoso, que não ter há ver com o que os torcedores sempre esperam: futebol bem jogado.

........................

Depois da vitória da nossa seleção, saí à rua, de bandeira na não. Muita gente correndo de um lado para o outro, saltando, levantando o punho e, gritando alegremente. Na praça do bairro, o barulho de buzias e som mecânico, anunciava a primeira carreata festiva...

........................

O que temos até agora, "no geral", como diria o outro? Seleções européias devendo exibições convincentes. E seleções da américa latina levando a Copa na responsabilidade. Brasil e Holanda classificada. E pouco mais que isso.

.........................

Portugal despertou - e Cristiano Ronaldo, ainda que ainda esteja meio sonolento, "discreto". 1 x 0 na Coréia do Norte, no primeiro tempo. E depois, com a seleção em desabalado contra-ataque, fez mais 6 gols.

.........................

Esses franceses! Parecem que vieram à África do Sul apenas para lavar roupa suja. Se é isso que queriam, a lavanderia está bem movimentada...

Mas, deixemos as depecções e más notícias de lado, porque o nosso negócio é estender o gozo da vitória da nossa seleção por muitos dias, até a partida com a seleção portuguesa!

Para comemorar a notável vitória do esquadrão canarinho:

"É gol*...

Que felicidade!

É gol o meu time é alegria da cidade..."

*Trecho da música "Replay", gravada pelo Trio Esperança, em 1974, que virou vinheta de muitos programas esportivos e até hoje é utilizada na hora da narração do gol, no rádio brasileiro. Se ainda não ouviu, procure na Internet!...