Era pra ser engraçado, mas não é

E tudo ocorreu numa seXta-feira de manhã. Estava trabalhando de madrugada, saí as 06:00 e fui tomar café na padaria. O fato ocorreu na semana em que houve um sequestro aqui no Rio e um atirador do BOPE matou o sujeito com um teco na cabeça. Quando acontece algo assim próximo, sempre pensamos que poderia ser agente, ficamos receosos. Estava eu pensando nisso enquanto ia para o ponto de ônibus.

Eu estava indo para o curso, pegava as 08:00 e ia de ônibus pra poder dormir um pouco, já que havia passado a madrugada acordado. Era um dia chuvoso e estava meio frio. Fui pensando em toda essa violência na cidade e eu sou meio radical quanto a isso, eu acho que a vagabundagem tem mais é que morrer mesmo.

Chego ao ponto sempre muito desconfiado, sigo por uma passagem subterrânea em que até o olho que é cego passa a ver. No ponto estava lá um cara com o uniforme do Flamengo, que me desculpem os flamenguistas, mas aquela blusa as 06:30 da manhã não combina, era assaltante na certa. Ele fica me olhando, eu fecho a cara e começo a imaginar o que faria com ele caso me abordasse. Pensei várias coisas, sair na porrada, jogar na frente do ônibus, varrer a rua com a cara dele...coisas assim. Ele me faz uma pergunta sobre um ônibus, eu respondo, ele aborda.

- Aqui eu só quero o guarda chuva. Não tente bancar o herói. - disse ele fingindo que estava armado.

Coloquei a mão na carteira e no celular, já era perdi tudo... Pera ai, o que ele pediu?

- Como é que é? Você tá mesmo me assaltando?

- Eu só quero me adiantar, passa logo o guarda chuva!

Porra, mas que bandido de merda, levar um guarda chuva. Nesse momento pensei em partir pra cima dele, enfiar-lhe o cacete e coisas do tipo. Paro e penso, eu estava perto do local de trabalho e uniformizado, essa raça e covarde demais, depois era fácil me pegar na covardia. A chuva já tinha parado, fechei o guarda chuva e joguei com raiva em cima do cara. Ele ficou meio desconcertado, a raiva foi crescendo, mas teria que controlar, já havia ocorrido outro assalto ali e o desfecho não foi bom pra vítima. Era fácil me encontrar, minha empresa é grande e meus horários escrotos, além de usar uniforme. Com a raiva que explodia eu disse:

- Porra tu é um merda mesmo, ladrão de guarda chuva... Seu filho da puta, ladrão de merda viado!

Bom era melhor eu ter tampado ele na porrada mesmo, ele ficou com cara de assustado. O cara não era novinho, devia ter a minha idade e era pouca coisa maior que eu. Pensei 30 vezes e só espumei mesmo, meu ônibus passou e eu embarquei. Quando cheguei ao curso, contei a história e não tinha um que não me zoasse! Ok, eu também zoaria, não ligo, ao menos no fim me rendeu boas risadas e um novo guarda chuva, mas nem ligo aquele chovia mais dentro que fora mesmo. Hoje em dia penso seriamente em colocar no seguro meu guarda chuva, qual será o próximo item cobiçado? Dentadura? Peruca? Pochete? Ok, pochete não.

Obs.: Fui interrompido enquanto escrevia este texto. Vários tiros foram disparados num sinal de trânsito em frente ao meu trabalho. Dois caras estavam assaltando com uma arma de brinquedo os carros que paravam no sinal. Abordaram um motorista e o de trás saiu atirando, matou um e feriu o outro que conseguiu fugir. O atirador é um policial federal, e só lamento o fato dele não ter matado os dois. Juro que queria escrever um texto de humor, mas essas coisas me tiram do sério, a história e engraçada, porém, após o ocorrido não tenho vontade de rir. Do jeito que a coisa está aqui no Rio, agradeço a Deus ao chegar vivo em casa, se chegar com meus pertences é bônus!

Símio
Enviado por Símio em 21/06/2010
Reeditado em 23/06/2010
Código do texto: T2333325