L A C O

Era manhã de sábado e você estava lá. Calado,imóvel,alvo das atenções...De tôdas as atenções.

Presentes; grande parte do nosso grupo de amigos.Todos murchos!...Literalmente.

Murchos de alegrias,murchas as nossas caras que o tempo,implacável,reveste de sua murchez.

Sentei-me no mesmo banco de nossas infâncias...Dois "carolinhas" incorrigíveis. Fitas amarelas da Cruzada Eucarística Infantil,as largas! Presidente e vice,respectivamente,e as fitas conferindo-nos uma pseudo autoridade sobre os cruzadinhos "rasos",aquêles das fitinhas estreitas.

Como o tempo passa rápido! Parece que foi ontem. As calças curtas,cabelinhos lambidos e a bajulação das freiras do Sagrado Coração,os encontros festivos na porta da capela,hoje...Uma paróquia.

E o padre falava...Palavras bonitas,consoladoras,e eu não conseguia me concentrar.Você,ali...Tão proximo,tão imóvel...

Na minha lembrança passeava ainda o amigo de muitos anos,o companheiro de grandes noitadas,cinemas,saraus,festinhas de fins de semana...Andava pelos olhares uma dor coletiva,a dura aceitação da cruel realidade do "pra sempre",ou "até nunca mais".

Conduziram-o pelo mesmo corredor das muitas euforias vivenciadas juntos.O grupo de jóvens,um braço do antigo Clube dos Vagalumes e o slogam:"Onde há um vagalume,não haverá trevas".Agora,tudo se entristece,restando entre as paredes somente os passos de um grupo de amigos.

Um vento morteiro recebeu-nos na porta e juntos fizemos-lhe companhia ate a sua derradeira moradia.Meus pensamentos distantes arrastavam-me para algum lugar alegre de nossas existencias,e por instantes lhe percebi em toda a sua esfusiante alegria.Ainda sem conseguir atinar o porque ,lembrei-me de sua voz "desafinada de doer",cantarolando um refrão dos anos 70 que recordo-me ; o seu predileto.

"Eu tenho andado tão só,quem me olha nem vê

Silenciei meu violão,nem eu mesmo sei porque..."

Pois sim,caro amigo.Sozinhos a partir de agora,andaremos nós,embora,o vejamos ainda em cada gesto de alegria que evocar a tua lembrança.E mesmo silenciadas as cordas do violão do tempo,lhe ouviremos,porque amigos de verdade jamais se separam...Seguem apenas,caminhos diferentes.

Ao querido amigo Jose Carlos Fernandes "LACO" que no ultimo sabado tomou um rumo diferente.