Da burocracia ao ridículo - Crônicas curtas -

A ordem era única, ímpar, inquestionável. A contagem e a recontagem deveriam ser catolicamente falando, perfeita. Os malotes chegariam às 19:00 hs em ponto, onde o entregador aguardaria a contagem do receptor. Minuciosamente esse processo se repetiria nesse mesmo horário todas as noites. Fora um serviço elaborado com muita competência e estratégia para que nada saísse errado. Haveria também a recontagem que, ao término dessa, os malotes deveriam ser postos em ordem numérica por data e dentro dessa por ordem alfabética e ainda separados por ordem de risco, alto risco e de emergência. Depois disso tudo faltava a assinatura de cada um comprovando a autenticidade da contagem e recontagem, onde finalmente receberia um carimbo de aprovado.

Não se falava em mais nada, a não ser nesse trâmite e no que aconteceria caso houvesse alguma falha. Profissionais da área se colocaram à disposição 24 hs por dia. Caso esses procedimentos não ficassem de acordo, seria chamado uma auditoria externa para sanar o problema, que até então nunca houve necessidade.

Foi numa quinta-feira, véspera de feriado que o improvável aconteceu. Foram entregues 1260 mas a contagem foi de 1263. Alarmados, profissionais da área entraram em ação. A auditoria externa foi solicitada. Permaneceram por mais de 2 hs contando e recontando. Nada! Ainda hoje, dois meses depois continua o empenho para solucionar o problema.