A BOLOTA DO  ZÓI.
 
Aqui, na periferia da cidade, o Governo está sempre inventando de promover os chamados mutirões da cidadania. É a máquina burocrática do Estado facilitando a vida desajustada e desatualizada do povão. Aproxima-se a eleição, renascem os mutirões.
O Dr. Antonio Luiz, cirurgião dentista, sempre participa desses movimentos. Conta ele que, praticando o seu ofício, observa a natureza simplória do pessoal, enredada pela crendice em coisas absurdas, medos despropositados --- atávicos até. É gente mais humilde que aquela de Garoto.
Num desses mutirões da solidariedade,--- diz o Dr. Antonio Luiz --- apareceu um camarada em seu setor de atendimento querendo arrancar o dente do cisne. “Dente do cisne?” estranhou o cirurgião. “Sim, Dr., o dente do cisne!” O Dr. Antonio Luiz então pensou e pediu ao cliente que abrisse a boca.  Examinando a arcada dentária do cidadão concluiu da necessidade de obturar um dos caninos. Os dentes do siso estavam bons.
“Meu amigo” --- disse ele ---  “você precisa é de obturar um de seus caninos”. Bateu no dente em questão. “Esse aí, Dr.”? “É!... esse aí é que está bem cariado” “Mais esse aí é a presa, Dr”? redargüiu apreensivo o homem. “Sim, é a presa!” apressou em esclarecer o cirurgião. “Mais diz que arrancá a presa a bolota do zói vira pra trás, Dr.? E o Dr. Antonio Luiz ironizando prontamente respondeu: “É, mais num tem “pobrema”. Nóis disvira ele de novo, na hora!”
“Ah, bão!”
E assim, tranquilo, pôde obturar a "presa" do homem.