A MÁQUINA DO TEMPO

A MÁQUINA DO TEMPO

Maria Teoro Ângelo

Não há nada mais abstrato que o tempo, que passa por nós, escorrega entre nossos dedos. O tempo é como a água do rio que segue seu caminho sempre em frente, é como a terra que se move sob os nossos pés e nem nos damos conta. O tempo passa e aplaca as dores. O tempo passa e cria barreiras. O tempo passa e vai devorando a nossa vida.

Às vezes queremos mesmo que ele passe ligeiro e que nos livre de algum mal. Por outro lado, quantas vezes gostaríamos de aprisioná-lo e assim, parado, nos deixasse para sempre ligados a um momento feliz. O valor relativo do tempo é parte de nossas vidas. Passa rápido quando queremos que fique. É eternidade quando queremos que voe.

O tempo nos intriga e nos aflige pelas surpresas que traz. Por não termos controle sobre ele sofremos à toa por algo que nem se concretizará ou vislumbramos finais felizes que nunca acontecerão.

O tempo não dá segunda chance e nos arrasta com ele por esse caminho enigmático que chamamos viver. O passado é feito de presentes que ficaram sepultados. O futuro também vai se fazendo de presentes que deixam atrás de si um rastro de passados. O presente absoluto não existe. Tudo se transforma imediatamente em passado e a nossa vida inteira é feita de mil mortes.

O que eu queria mesmo era uma máquina do tempo igualzinha à que vi num filme. O cientista entrava nela e ia para o passado ou futuro revendo a vida, modificando-a ou se livrando da cisma do inesperado. Quem não gostaria de entrar numa máquina assim e enfrentar a correnteza pela busca do que perdeu, do que não fez, do que fez tão bem que merecia ser eternizado? Quem não gostaria de reparar seus erros, de não ir pelos caminhos incertos que escolheu, de ter vivido melhor os momentos que não soube aproveitar?

Não há máquina do tempo. Não há esse passado ao nosso dispor. Cada segundo vai matando o presente e só há um futuro que tememos e não entendemos. Mas haverá sempre um tempo para agir e ir invadindo o futuro, que é só o que nos resta, munidos da esperança, a única arma capaz de nos convencer de que no final tudo dará certo.