A FORÇA, SEGREDO DO HOMEM!

Na roça do meu avô eu aprendi muitas lições de vida. De vida simples, honesta, harmoniosa e muito trabalho rude, pesado.

Conheci o sabor das frutas colhidas no pé. Laranjas, com qualidades e sabor de natureza, sem os cruzamentos de hoje que vão priorizando a resistência contra pragas e a produtividade em detrimento ao sabor. Não sou retrógado, muito pelo contrário, pois entendo a necessidade de aumentar a eficácia, exigência do mercado consumidor e da contabilidade.

Conheci o ciclo produtivo de vários produtos, do preparo da terra, seleção das sementes, plantio, cuidados, colheita e armazenamento. Reduzi tudo em duas linhas apenas, para não cansar quem se dispuser a ler. Mas vai fazer!

Lembro-me bem que na época do inverno colhiam o feijão, denominado feijão da seca. Ele era arrancado da terra, manualmente, lá na roça. Faziam os montes com as folhas, ramas e vagens já ressequidas. Em carros de bois era transportado para a sede da propriedade. Em grandes terreiros a colheita era colocada para secar ao sol até estar no ponto para serem debulhadas as suas vagens, tomando-lhes os grãos, o que era feito batendo nos montes com compridas e flexíveis varas de madeira. Os grãos eram recolhidos e acondicionados em sacos, latas e toda sorte de recipientes disponíveis.

No dia de “bater feijão”, todos chegavam um pouco mais cedo das labutas e executavam o serviço no fim da tarde e início da noite. Logo após se dirigiam à bica de uma água cristalina que corria pertinho da porta e cada um lavava o rosto, mãos e os braços e se dirigiam para a frente da casa onde era servido leite quente, café, biscoitos e bolos, tudo numa confraternização tão simples, pura que mais parecia, (ou era?), uma forma silenciosa de agradecer a Deus pela colheita, pelas famílias e por tudo que ali existia.

Presenciei isso por alguns anos. Numa época dessas, no dia de “bater o feijão”, um trabalhador novo, logo após concluir a “bateção”, desafiou um dos presentes para uma “luita” e travaram uma verdadeira batalha sobre as “palhas” do feijão batido. Logo depois mais dois, até se esgotarem.

O meu avô, calado e com um sorriso maroto a tudo observava da janela. Ao terminarem ele sempre sorrindo, pediu a todos que se aproximassem e aí, com uma voz muito serena ele perguntou:

- Quem venceu?

- Fui eu, responde um.

- Fui eu, diz o outro.

O meu avô, sempre sorrindo, disse:

- Quem venceu fui eu! Eu não me esforcei, não me arrisquei a me machucar ou a machucar alguém. Esta brincadeira é um perigo e pode criar inimizades! Eu não corri risco nenhum como vocês correram. E o mais importante: Ninguém conhece a minha força. A força, as habilidades, são segredos que cada homem deve conservar. Se algum dia nesse mundão de Deus a gente tiver que medir forças com alguém, que seja uma surpresa para o outro. No próximo ano, quando for “bater o feijão”, nós vamos arranjar outra brincadeira, de preferência que eu também possa participar. Temos um ano para escolher. Vamos tomar o nosso café?

Divinópolis, 25-06-2010.

JFerreirinha
Enviado por JFerreirinha em 26/06/2010
Reeditado em 12/12/2011
Código do texto: T2342218
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