Singularidades vitais: fecundação e morte
     Singularidades vitais, fecundação e morte.
 
 
     Fecundação e morte. Vivemos todo o nosso presente, entre estas duas singularidades. Estas são nossas duas únicas, mesmo que pareçam abstratas, certezas.
 
     Não existíamos, nada éramos então. Sem história, nem passada nem futura. Um nada existencial.
 
     Em um momento somos fecundados. A história do nosso ser aí se inicia. Um zigoto, e lá estamos geneticamente constituídos.  Zigoto, blástula, gastrulação, embrião, feto e por fim nascemos. Mas já vivíamos antes de nascermos. Já éramos geneticamente nós. No início, ainda não tínhamos aparelho neuronal, ainda apenas vegetávamos. Iniciada a vida neuronal, agora já existimos mentalmente, ainda não nascemos, mas já somos presentes mentalmente.
 
     Mas o que importa é que do nada, fez-se a fecundação. Fez-se o momento maior da perpetuação da vida. Ocorreu uma singularidade. Um momento único, onde de nossa inexistência total, surgimos. Inicialmente apenas geneticamente, e algum tempo depois existíamos como possuidores de estruturas mentais.
 
     Deste momento, até nossa morte, viveremos o nosso presente. Nossa próxima e última singularidade, é a separação total de nossa existência física e mental deste mundo. Sem nenhuma experimentação ela ocorrerá. Num momento somos nós, e no outro não existimos mais. Voltamos ao nada. Sucumbimos a certeza única de que se nascemos, nosso fim será certo.
 
     Dois momentos marcantes para nossa existência, e viveremos toda a eternidade de nosso presente, sem jamais termos consciência, ou conhecimento destas experiências. Fomos fecundados e morreremos. Existimos e desapareceremos. Somos nada e finalmente nada seremos.
 
     Agora, para a maioria de nós, possuímos algum nível de controle sobre o nosso presente. Já que não possuímos controle sobre os dois mais marcantes eventos de nossa existência, pelo menos busquemos agir com o máximo de parceria com a vida que nos foi dada pelo acaso da natureza. Façamos valer a pena termos vivido. Deixemos marcado, neste mundo, que existimos, e que fizemos a diferença. Construamos uma vida digna, um caminhar seguro onde por mais que tropecemos e caiamos, sempre nos levantaremos. Jamais abdicaremos do dever de sermos unos com a vida. Jamais abriremos mão de controlar nosso presente, da forma que nos for possível, dentro da ética que nos for digna, e com a certeza de que nunca saberemos tudo, e na maioria das vezes agiremos no escuro frente ao volume enorme de incertezas e da complexidade da existência social. MAS se temos duas certezas, fecundação e morte, temos uma obrigação: Viver, viver, e viver, sendo humanos e construindo nossa humanidade.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 27/06/2010
Reeditado em 28/06/2010
Código do texto: T2345146
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