Carona na Marginal Tietê

Essa história faz parte da colcha de retalhos vivida por mim na saudosa Bragança Paulista. Sempre conto histórias da época da Facul. Não tem como evitar pois foi um período repleto de passagens inusitadas.

Lá estava eu ... “bixete” de Direito. Sempre fui de falar mais que a boca e em uma semana eu sabia o nome dos 80 colegas de sala. Resultado: eleita a relações públicas da turma. Isso também me rendeu o cargo de “representante de sala” que nada mais é senão a função de quem vai tomar no cú durante todo o ano em nome dos demais colegas.

Pois bem, nessa primeira semana já me identifiquei com algumas pessoas que se tornaram ao longo desses 5 anos muito especiais pra mim. Eu os tinha como irmãos e os defendia como mãe. Acontece que esses meus “filhos” só me ferravam a vida e foi assim que começou o “lance” da Marginal.

Foi logo no início do curso. A Faculdade promovou uma “viagem” à São Paulo a fim que pudessemos conhecer o famoso Largo São Francisco. Meu amigo piauiense me convenceu a ir nessa viagem (essa foi antes do expresso para o inferno). Providenciou tudo. Nós iríamos de busão. Não me recordo quantos ônibus sairiam da Faculdade, mas me recordo que tínhamos um horário a ser cumprido.

Passei no apartamento dele e ele me pede pra entrar. Cheguei com uma meia hora de antecedência, pois tenho o mal costume de não me atrasar. Poxa ...ele era uma moça. Demorava demais pra se arrumar. Atendeu a porta de roupão e falando todo calmo: Senta aí Jana, é um minuto só. Putz ...um minuto ?! O cara ta pelado ainda !!!! Ele entrava no banheiro ...saía, passava por mim ...sorria. E parava pra falar alguma coisa e aquilo me dando agonia. Anda logo que a gente vai perder o ônibus. Perde não Jana, eles esperam.

Tive que surtar pra ele enfiar logo uma roupa e a gente se mandar pro estacionamento da Facul e encontrar a galera. Quando estou chegando no estacionamento eu vejo o ônibus lá longe partindo sem nós. Olhei pra ele e juro que a minha vontade era arrancar o sorriso dele no tapa. Ele deu a idéia. Vamos de carro Jana, a gente segue o ônibus, não tem como se perder. Pausa: eu havia tirado carta há pouco tempo, nunca tinha ido pra São Paulo de carro e meus pais não faziam idéia de que a filha única deles estaria em Sampa nesse dia.

Mas, como também tenho merda na cabeça, acabei topando (com o coração na mão). Acontece que o ônibus que eu havia avistado não era o da Faculdade e desse modo, acabei indo que nem cega pro campo de batalha. Na pista eu falava: não acredito nisso, tava tudo pago, era pra gente estar dentro do ônibus, não acredito nisso. Culpa sua ...tinha que demorar tanto assim. Que tava fazendo infeliz ? Raspando o saco ?! Tá achando que ia pra baile? E ele ria e dizia, relaxa Jana. Chegando lá a gente dá um jeito.

Esse meu amigo me ligou esses dias e lembramos desse fato. Falei pra ele que ia escrever sobre isso e ele consentiu. Veja só o que esse cabeça de estrume me fez. Chegando na Marginal Tietê comecei a me desesperar. E Agora Aurino? Pra onde a gente vai, criatura? Ele teve a brilhante idéia de parar na Marginal pra pedir informação. Eu estava super tensa e nem prestei atenção pra onde ele foi, pois fiquei me concentrando com o que poderia acontecer ao meu redor. De repente ele aparece sorrindo e abrindo a porta do carro pra um cara que eu nunca vi na vida. Gente, ele enfiou um cara estranho dentro do carro pra nos levar até o Largo São Francisco.

Meus olhos devem ter dobrado de tamanho. Na certa o Aurino pode ler no meu olhar: seu filho da puta que merda é essa? Nossa ....não podia acreditar nisso. Esse cara acha que tá no Piauí? Ele não assiste tevê não ? Pelo retrovisor eu via o olhar do rapaz que ficava com a mão próxima ao peito (dentro do casado). Eu suava frio, meu toba se contraía e na minha mente eu pensava: esse cara vai nos matar. Ele deve estar armado. Cada vez que eu ia mudar a marcha era um beliscão que eu dava no coitado do Aurino e ele só falava: ai, ai Jana. Na certa deixei a perna dele roxa, mas a vontade mesma era deixá-lo todo roxo.

Foram agoniantes momentos até chegarmos ao bendito Largo São Francisco. Por Deus o cara do casaco não nos matou e o meu amigo se encarregou de pagá-lo por nos levar até lá. Na verdade eu fiz ele pagar o combustível e o estacionamento, afinal de contas eu havia pago pela viagem de ônibus e tive que ir de carro.

A turma nos viu chegando e começou a rir. Eu devia estar mais branca que papel. Viu ...de onde vocês surgiram? Contei toda trajetória pro povo que desceu a lenha nele. Onde já se viu parar na Marginal Tietê e enfiar um cara que nunca viu na vida dentro do carro. É pedir pra morrer. Eu juro ...se o cara partisse pra sacanagem eu apelaria: come o rabo dele primeiro que ele merece.