Lulu Chorão

Alguns amigos perguntaram porque Lulu Chorão. Prometi responder na coluna, pois estaria sendo justo com os outros leitores que leram as crônicas anteriores.

Nunca mexi nesse assunto pra valer, nem tive curiosidade de “trabalhar” a mente para descobrir as razões, mesmo porque continuo chorando até hoje e me faz muito bem.

Mas isso vem desde o tempo do Grupo Escolar Alexandre Porfírio, lá na Praça da Liberdade. Quando ia pra escola, eu já encontrava a primeira concentração de colegas sentados na escada da Prefeitura. Era apontar e a turma começava o coro: “Vai chorar!!! Vai chorar!!!”. Minha sorte era ter o apoio físico e moral dos amigos escudeiros como Kleber Campelo, Fernando Braga, Miguel Sola, Jota Fagundes e Sidnei do Sargento Severino. Eles tentavam amenizar o coro e ainda eram solidários comigo.

Muitas vezes eu usava os choros para fugir de provas e perguntas difíceis. A manga comprida da fardinha caqui vivia sempre molhada de lágrimas, pois eu apoiava os braços sobre a carteira e a cabeça sobre eles e só levantava quando a situação já estava mais amena. Se os professores não entendiam o choro, imagine se eu deveria controlar ou procurar entender. Por conta, tirava boas notas e na maioria das vezes nem fazia as tarefas. Juro que não era choro de conveniência.

Um fato eu tenho que registrar: Sempre chorei quando o assunto estava relacionado com a minha mãe. Certa vez, ela passou em um carro dizendo que ia levar a comida das velhas (as velhas eram umas senhoras cegas que moravam pros lados da rua de Boa Nova), eu não entendi e pensei que ela estivesse viajando pra Salvador. Não deu outra, a galera puxou o coro e o “Vai chorar!!!” predominou.

Recentemente, eu baixei umas músicas pela internet e veio “Coração de Luto”, de Teixeirinha, que era muito tocada em Poções. Lembrei-me do quanto era triste e trágica aquela história. A angústia me fez lembrar do passado. Eu tinha um medo terrível de perder a minha mãe e ficar como aquele jovem da letra. É marca do subconsciente em que a gente pensa não existir mais e, de repente, serve para explicar algumas atitudes e fatos. Mas, se uma boa terapia busca explicação em coisas do passado, com essa eu fiquei livre de algumas sessões.

Assim, chorando, eu fui enfrentar o Ginásio, mas lá, chorava bem menos. Imagine se eu ia chorar na frente de Dr. Irundy.

Interessante. O tempo passou e eu ainda continuo chorando, mas agora eu sei porque e pra quem eu choro. Na chegada da Bandeira eu choro do Poçõensinho à porta da Igreja. Choro dirigindo, choro ouvindo música, choro pelos meus parentes e amigos. Choro em ver as demonstrações de fé das pessoas. Choro em ver noiva entrando na igreja. Choro quando vejo histórias de pessoas que se superaram com esforço individual.

Na verdade, eu choro com o coração. É a conjunção muito forte de passado com o presente. Cada lágrima é uma história consolidada. A emoção é sempre à flor da pele.

Ana Maria - minha mãe, está muito viva e, Lulu, cada vez mais chorão.

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 07/09/2006
Código do texto: T235164