O SILÊNCIO

Sempre, mas sempre mesmo, adoro o silêncio. O sentido dessa palavra, nos mais diversos tipos de significados, traz-me lembranças memoráveis. Tempos que já se foram. Momentos de reflexão. Busca do meu eu interior.

Já passei do tempo das agitações. Talvez a idade que já vem chegando, melhor, os anos aumentando, a proximidade da morte (fim de quem vive).

O burburinho constante em que vivo os cinco dias da semana, durante quase oito horas, me faz procurar o silêncio das madrugadas. A tela da máquina apenas é a luz que os meus olhos vê; em volta alguns chiados de animais noturnos, porém, agradáveis. E aqui vou, apenas com as mãos sobre o teclado, viajando na imaginação: quão doce é o silêncio.

Viver momentos assim causa-me alegria. Ou, ainda, falar teclando com outro – que também é fã de carteirinha do silêncio – ora um assunto, ora outro; e a vida passando rapidamente, pois à frente de uma máquina que comunica com o mundo externo, o tempo voa (embora num mundo cibernético, frio), quase tudo é possível. Quase tudo!

Talvez aqueles momentos assim de silêncio – apenas o barulho do teclado com o leve tocar dos dedos – acalma-me os ânimos. É difícil de se entender: vivo cada momento do dia, do trabalho num mundo que considero não meu, mas do outro. Tanto do outro que me sinto perdido. Vivo, muitas vezes, a favor do outro. Educar é viver a fim do outro – entenda-se: fazer alguém saber algo é excelente, mais excelente ainda é quando se colhe resultados, portanto, educar é doar-se.

Quando nos dispomos a educar (não apenas fazer da educação um meio para sobreviver) – sabemos que doamo-nos, mas também recebemos; mas fazer da educação uma bandeira não é nada fácil. Nada fácil porque para ser um bom educador necessita-se de ‘querer’ – de ‘querer ser educador’. Faça sol, faça chuva, caia o que cair: educação em primeiro lugar.

Não devemos deixar de lutar pelos nossos direitos, por salários mais dignos, por melhores condições no trabalho: tudo isso faz parte da educação – que sempre é renegada pelos nossos governantes. Às vezes penso: será que eles passaram pela escola? Ou, simplesmente compraram (ou como dizem, apenas freqüentavam)?

Não fugindo do assunto – que já fugiu, mas voltando a ele – o silêncio evidencia muitas coisas. Tanto que aprendi a escrever apenas no silêncio da madrugada. Dificilmente escrevo algumas linhas com o sol a brilhar. Tento. Parece que não são os mesmos neurônios a pensar. Afinal, a noite é para tudo, inclusive não só para os românticos, mas também para os que adoram o estar sozinho.

21 de Julho de 2003.

Prof Pece
Enviado por Prof Pece em 08/09/2006
Código do texto: T235241