Minas Gerais

Sempre tentei entender o amor que tenho pelo Estado mineiro. É uma paixão que invade o peito e que não tem explicação. Na verdade eu creio ter me apaixonado pelo povo mineiro, que sempre foi muito cortês comigo.

Meus melhores amigos na Faculdade eram do Sul de Minas. Neles encontrei a reciprocidade da minha doação de amor e amizade. São pessoas que, por força do destino, distanciaram-se de mim, mas que nunca se distanciaram do meu coração. Em especial eu tenho carinho e amor por dois grandes amigos: Álvaro e Ramon.

Cada um era completamente diferente do outro, mas neles encontrei a amizade sincera. Com eles eu não me sentia sozinha, eu me sentia em paz...com eles meu coração estava sempre a sorrir. O Ramon tem alma de artista, pra mim ele é um artista advogado e não um advogado artista. Tocava muito seu saxofone. Tocava piano e tempos depois aprendeu a tocar flauta. Música era sua paixão. Com ele eu compartilhava o gosto musical e ficávamos horas a fio nos embriagando dos versos cantados tão rejeitados pela maioria dos universitários, pois pra eles bom mesmo era o batidão.

Ramon era apreciador da cuba libre e nunca faltava uma garrafa de montila em seu apartamento. Às vezes (na maioria das vezes) ríamos do seu jeito resmungão de ser. Era um autêntico crítico culinário. Putz ...como era difícil agradar o estômago do Ramon. Se tem algo que nunca vou me esquecer são dos momentos em que eu o ouvia tocar o sax e lá do apartamento eu gritava : “Ramon ... toca aquela !!”. E ele se punha a tocar “Love of my life – do Queen”. Ainda ouço a melodia, como se ele estivesse tocando aqui nesse momento. Ramon me defendia e me dava bronca quando precisava, na verdade ele vivia me dando bronca pelo meu jeito “água morna” de ser. Eu relevava tanta coisa ... hoje já não tenho tanta paciência assim, embora no meu íntimo eu continue a ser a mesma Janaína.

Álvaro...o que dizer desse homem? Não tenho palavras pra expressar o quanto ele representa pra mim. Uma vez cheguei a comentar com ele que eu sentia que éramos almas gêmeas, tamanha a cumplicidade entre nós. Muitas pessoas desacreditam em amizade entre pessoas do sexo oposto, mas eu ainda acredito que é possível sim e prova disso é o amor que sinto pelo mineiro. É um amor que não se explica. É amor maternal, fraternal ...é algo que vai além da nossa vã inteligência.

Se você tem em sua vida uma pessoa que te compreende sem que seja necessário você falar, se você preferir estar ao lado dela sentada num banco de praça ao invés daquele show super badalado que você sempre teve vontade de ir, na certa você saberá do que estou falando. O melhor de tudo é que é um amor sem cobrança, pois não tem sexo pra atrapalhar. Não rola ciúme, não rola incompreensão. É a melhor parte do amor...

Ficamos um bom tempo sem nos vermos e quando nos reencontramos a sensação é de que sempre estivemos ali, um ao lado do outro. O Álvaro sabia dos conflitos que me atingiam mesmo quando os demais amigos sequer sabiam a agonia que tomava conta de mim. Ele nem precisava falar nada. Certa vez ele me deixou um bilhete que dizia: “Estou preocupado com você.”. Ele havia passado pelo meu apartamento e eu não estava. Quando li aquele bilhete eu me derramei em lágrimas. Como é bom saber que tem alguém que se preocupa com você e como era bom saber que ele, meu amigo, se preocupava.

Numa época de fossa ele me levou pra cidade dele (São Gonçalo do Sapucaí). A família dele dispensa comentários ...não é nota 10, é nota 1000. Se tem um lugar que fui MUITO bem recebida, esse lugar foi a cidade mineira do meu amigo. Lá eu me sentia em casa, sentia como se fizesse parte dali, se tivesse nascido ali. Sentia-me em paz.

Hoje esse meu amigo é pai e a filha dele é a coisa mais linda desse mundo e não poderia ser diferente pois os pais são lindos também. Eu tive o privilégio de conhecer a Anna Julia, a continuação desse meu amigo cuja a arte de filosofar era seu dom. Creio que eu era a única que compreendia o que ele queria dizer, os demais diziam que ele filosofava demais e eu era fascinada por nossas conversas nas noites frias de Bragança Paulista.

Deve ser por isso que me apaixonei por Minas, porque o meu amor iniciou pelos habitantes de lá que, com jeitinho, conquistaram meu coração. Não tem jeito, hoje eu tenho que confessar que sou uma paulista com coração mineiro. E um dia eu me mudo pra Minas...