O terminar das coisas

É estranho saber que um dia tudo vai acabar e só vai sobrar a insistência da memória na sua árua função de não nos deixar esquecer das coisas. Não nos deixar perdidos ante o que não se pode mais compreender.

Fotos é de uma tortura suave e necessária. Quem nunca ficou cego por alguns instantes ao ver uma foto e se perguntar alguma coisa que, intimamente, você sabe a resposta? Um ardor pela garganta, um desconforto na língua e um mar nos olhos. E a foto ri.

A lembrança seria um breve castigo de nossa existência. Ela é muito mais intensa que possamos imaginar. Se é que possamos imaginar alguma coisa...

O tempo passa e o vulto da morte é o grande drama de todos. Morrer é de uma crueldade absoluta, ao mesmo tempo que é de uma gentileza sem fim. Por que? Oras..

Por mais que saibamos que ela uma dia vem, mesmo sem ser convidada, sorria quem se sente preparado para ela. Ouço um cascudo silêncio e os sorrisos se escondem atrás de lábios confusos. A morte é tão necessária quanto indelicada. Por vezes, ela se impõe, rainha imperiosa, sem ao menos procurar saber se estamos pronto para o próximo que é morrer. Isso me faz questionar a vida. Mas, então, me lembro que há a memória e, agora sim, entendo a morte.

Somos figuras de uma grande coleção de nós mesmos. O que somos senão uma grande plateia que aplaude quando lhe convêm? Somos tão tolos, somos tão felizes.

Dever ser exatamente por isso que, um dia, tudo acaba, só pra restar a lembrança.

Seria cruel sermos eternos e viver apenas do que fomos um dia.

Dever ser por isso que as fotografias me falam ao coração...

Valdson Tolentino Filho
Enviado por Valdson Tolentino Filho em 04/07/2010
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