FLORADAS NO CERRADO

FLORADAS NO CERRADO

Maria Teoro Ângelo

A primavera está fazendo um trabalho compensador onde ainda há vegetação nativa. As árvores secas e até queimadas ali pelos lados de Minas e Goiás estão renascendo. Umas estão cheias de folhas novas e que ainda não são verdes, mas de um avermelhado que as distingue das demais.

Os ipês, com suas floradas intensas e fugazes, vão rareando, mas ainda há alguns exemplares deslumbrantes. Por mais que o tempo seja escasso, o caminho longo e um trabalho que espera com hora marcada, ainda sobra tempo para admirar essas coisas que aprecio tanto. Não custa chamar a atenção de quem está ao meu lado, parar e tirar uma foto, e depois ficar olhando embevecida a imagem parada, roubada, sem consentimento, e a prova de algo que pode não existir mais daqui a pouco.

Pelas grotas e furnas, de difícil acesso, tudo está intocado e a gente imagina como deveria ser antes da chegada do homem branco. A descrição do Paraíso coincide com as amostras com que me deparo pelos meus caminhos. E fico imaginando um outro lado que ainda não pude ver, como o Pantanal e a Floresta Amazônica. Decididamente o Paraíso era aqui.

Saí de um calor insuportável e um sol ardente que castigava a Capital, como se não bastassem a fogueira queimando nomes e partidos e o circo pegando fogo . Mas as árvores estavam lá, soberbas, majestosas, exibindo flores, ora brancas, ora lilases, ora rosa - pálido e algumas de um roxo forte. Não consegui escolher a mais bonita. Sei que, com a entrada das chuvas, vão aparecer outras cores e sei que vou adorar.

Mesmo no solo preto e queimado já surgem pequenos arbustos e a natureza é diligente na sua reconstrução. As melhores sementes resistem e brotam assim que surge uma chance. Ainda bem que me ensinaram a amar as plantas. Desde pequena nunca tirei uma só folha das plantas ornamentais para que elas não ficassem feias. Era uma proibição, mas que eu fui entendendo como respeito.

Sorte minha que tenho esses pequenos prazeres de graça por onde passo, por onde vou. Enquanto caminho, aproveito cada detalhe. Não espero chegar para fazer algo prazeroso, vou fazendo. Assim deveria ser a vida: ser feliz com o que dispomos a cada passo e saber renascer do fogo, das cinzas, como a natureza faz tão bem.

Mas vocês não acham que na maior parte do tempo fazemos tudo ao contrário? Ficamos remoendo mágoas antigas e perdendo tempo, enquanto esperamos o final e acreditando que só lá é que tudo vai dar certo.