DIÁLOGO REVOLTANTE

No inicio do mês é comum ver idosos acompanhados por jo-vens, geralmente netos, que os conduzem á Agência Bancária para receberem o benefício a que fazem jus por conta da sua aposentadoria. Muitos são carinhosos e ali estão por a-mor e respeito ao seu familiar. Há, no entanto muitos ca-sos merecedores de atenção. Os sentinelas que ali se fa-zem presentes, deveriam observar cuidadosamente o comporta-mento de alguns para que se evitassem a exploração do apo-sentado.

Alguns jovens não querem trabalhar e exigem que os avós lhes custeiem despesas com coisas supérfluas. Como no caso que relatarei por exemplo:

- Vó, me dê dinheiro pra eu comprar meu abadá.

- O qui diacho é isso ?

- É uma roupa para dançar o carnaval.

- Vá resá mia fia pá mode chuvê e criá ligumi pus inucenti i pasto pus bicho brutu...Quem já viu caranavá nu mêis de janero, isso é u fim du mundu.

- É o brejal, vó. É o carnaval fora da época, a micareta.

- Mica u quê? Qui arrumação é essa? Vôte diacho! Ieu num dixi qui é invenção do coisa ruin.Deus mi live três vêis. O capeta cano num vêin manda o secretaro. Arrepara ua coi-sa dessa. É cuma dizia meu padim padi Ciço: Satã num apare-ci horrivi cuma ele é e u povo pinta. Ele num si apresenta de chife e rabu naum, ele si intramela nu mei dos cristaum disfaçado de coisa boa, de muié bunita e sem veigoia cum essar dança imorá cas carni tudu di fora.

- É a moda, vó. É preciso ser sexi, falou meu?

- Ti discunjuro. É purisso qui Nosso Sihor num manda inver-nu. Ele é Pai mar é justo. Só fais pena pruquê uns fais e todo mundo paga sem devê. A farta di chuva é castigo dor brabo. I as abêia de São Pedo paga pur as de São Palo. Meu padim Padi Pedo num gostava dessi tá de carnavá naum, eli si arritirava di casa e si infurnava na igreja fazeno pini-tênça na frenti du artá du Coração de Jesuis, dia i noite. Eli pidia misericorda i perdão pur or pecado do mundu, os trêis dia du carnavá e já amaencia a quasta fera da cores-ma distribuino as cinza benta e celebano a missa.

- Toda vida houve carnaval, vó, que santidade é essa?

- Num tô dizeno qui num ôve não. Mais tudo tem limiti, u povo de hoji só veve di festa, di ingrizia, di safadeza i tabaio quê bom nem falá. O carnavá só era nu tempu cer-tu. I as muié si trajava cubrino as carni cuma colombina. As fantasia era rôpa de citin de toda vesidade. Num é cuma ar doida di hoji tudo nua i cantano essar cantiga feia, naum.O povo arrespeitava unzozoto, brincava sein seveigoin-ce.

- Vamos, velha, passa a grana, sem conversa fiada. Tô cheia!

- Ieu truvi vosmicê pá puntá eu, cabrita, pá modi mi fazê cumpahia. Mardita hora . Nunca pensei qui você fossi caí na gandaiá, naum!

- Deixa de papo, coroa, passa a mufumba que eu sei me vi-rar. E vamos pra casa calada!

- I meur cachete num vai compar não?

- Depois, agora eu tenho coisa mais importante pra fazer.

E a avó sem ter coragem de reagir ou de recorrer a alguém entrega boa parte do dinheiro da sua aposentadoria e fica sem condições de comprar seus remédios(os cachetes) e os alimentos necessários para sua sobrevivência.