A Inexorabilidade da Morte
Era sabido que todos dormiriam quando a verdade fosse dita. É triste ouvir o que nos causa dor. É duro admitir a dor, a derrota, a fragilidade, a decadência; assumir por vez a decomposição...
Poucos vivem para morrer. Estremecem quando o assunto pende para a inevitável falência múltipla dos órgãos. Pobres diabos! Será que anseiam pela eternidade? Será que não lhes seria suficiente o humilde reconhecimento pós-morte? O que poucos almejaram!
Trêmulo, ébrio e porco, com a perspicácia de um deus, seguro o espelho sentado no vaso sanitário; abro a garrafa de refrigerante; preciso salvar-me. É pouco o que sinto. É tudo muito ínfimo, limitado!
Quem são essas pessoas que me circundam? Que cama é essa em que me deito todas as noites? De onde vêm esses sonhos que mais parecem pesadelos? Por que tentam alegrar-me? Será que estão além de meu ser? Qual a finalidade de tudo isto? Terei um dia o controle do “sistema”?
Questões horríveis tomam conta de meu ser. Não sou nada! Nunca quis ser! Então, porque? Por que? Por onde ando, interrogações me interpelam; quem é você?
Ah, Deus, um dia talvez serei quem eu quiser ser? Será que neste dia não me interrogariam para tanto? É humilhante sentir o que sinto nesta situação. A mais extrema fragilidade do ser!
Talvez o dia de amanhã me tenha como um pútrido repugnante, ou como um mártir irrepreensível. Quem o saberá? O que sei é que não esperarei nada, absolutamente nada! Um copo d’água me bastará!
O tempo passa e nada fica!
Papos furados à noite adentram, perfurando o espaço... Excessiva ingestão de coca-cola.
Quase sempre, mesmo com os mais humildes, percebe-se meu tremular de pernas por debaixo da mesa de vidro.
A Inexorabilidade da Morte.
Cristiano Covas, 03.12.05.