VAI TER QUE BEBER, FILHO DUMA ÉGUA!!

Lêda Torre

Há muitos e distantes anos da infância da minha mãe Creusa e adolescência das minhas tias Maria e Geminiana, as três filhas do meu avô Senhorzão, moravam no povoado Santa Fé, perto da cidade de Buriti Bravo e Caxias – Ma, precisamente, também perto do rio Itapecuru. Lá nas propriedades da família Souza, elas nasceram, com mais dois irmãos, foram criados e educados ao modo de meus avós maternos, na maior rigidez possível, no princípio do século XX.

Ao chegar uma visita, nem pensar de “menino ou menina” chegar perto...aquele descendente de português, de pouco riso, durão, bom pai de família, trabalhador, era brabo, muito brabo!! Se alguém insistisse em encarar uma das filhas, belas por sinal, loiras de olhos verdes, outra de olhos azuis e uma meio morena, cabelos lisos, mas as três muito bonitas, sabia-se que, o castigo, viria. Ainda mais, que elas arrasavam corações pela redondeza do lugar, Santa Fé.

Pois bem, as moçoilas acordavam bem cedo, para os afazeres domésticos, junto com vovó Delfina, na cozinha preparando com as criadas além do café, o almoço para meu avô sair até sete da manhã, já com o rango pronto. Imaginem só, que hora minha avó, teria que se levantar com a criadagem? No mínimo, umas três pras quatro horas da matina... E foi bem aí, umas seis da manhã, que certo cavaleiro andante, cavalgando em seu belo cavalo, viu a tia Geminiana, loira dos olhos azuis, lá pelo terreiro , varrendo a frente da casa , e ao ver o sujeito estranho, mais do que ligeiro, a moça entrou em casa, sabendo que seu pai jamais permitiria um estranho por os olhos em uma de suas filhas.

Entretanto, o rapaz, encostou ali, em plena seis horas da manhã, a pedir um copo d’água, logo a quem? Ao Senhorzão. Pois este, era quem vinha sempre receber um estranho, nem sua esposa e nem suas filhas era permitido fazer tal recepção. O senhor da casa, cumprimentou o moço: - bom dia, o que desejas?

-estou com sede, o senhor pode me dar um copo d’água? Pediu o rapaz....

-Pois não, mas quem é de minhas filhas que você deseja que lhe sirva? (Isto, já percebendo as segundas intenções do forasteiro). Crendo que vovô estaria de certo modo acatando aquela simpatia do homem pela Geminiana, muito bela a loira jovem, este ficara meio bobo, apreciando o seu objeto de desejo...

Porém, Senhorzão, deu ordem à sua filha que fosse lá dentro de sua copa e, apanhasse uma copeira (bandeja porta-copo), como era conhecida naquela época, comportando seis copos grandes. A menina, muito obediente, trouxe os seis copázios cheios, e o velho português deu ordens para o estranho desapear do cavalo, sentar-se e tinha que beber os seis copos d’água....mais do que ligeiro, o moço desapeou do seu animal, sentou-se,... tremia mais que vara verde... amarelou... ficou mudo...mas, foi tomando um a um dos copos d’água....imaginem a situação daquela pobre criatura, meu Deus!!

Agonia daqui, dali, o mancebo ia quase se engasgando, sem querer continuar porque seu limite chegara ao fim, e morrendo de medo do Senhorzão, o seu semblante era de terror...que situação aquela do cara!!!... mas quem manda dar sede as seis da matina?? Ainda mais que naquela região, meu avô era respeitado e temido! E mexer com sua prole, nem pensar!! Todos conheciam sua fama de resolvido, de brabo...apesar de ser bom patrão, mesmo brabo....

Vovô aos brados deu a seguinte ordem e dizia: “filho duma égua, agora ou tu bebe essa água todinha, ou eu te capo!! tu nunca mais passa por aqui, pra olhar fia dos outros, viu?? Por hoje tu passa...mas num é pra ter próxima vez, não!!” essa foi a voz da autoridade de quem mandava naquelas terras, que eram suas....

Após o coitado ter bebido uns quatro copos d’água, estava a “baldiar” o excesso do líquido e, meio atordoado, caiu tão zonzo... mas se levantou...apeou seu animal e caiu fora.!!!.. a ordem era nem olhar pra trás.....e, assim foi!!! Sabe-se que, até hoje aquele homem, nunca mais passou por aquelas terras, sumiu do mapa!!.. e as moçoilas, tremendo pelo que acabara de assistir pelas frestas das portas...saíram de fininho...temendo que as coisas virassem pro seus lados...O velho português era fogo!! Isso, é um pouco do muito que ainda vou escrever nestas crônicas, só do vovô, te, cada uma!!

______São Luis-Ma., 8 de julho/2010_____________________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 09/07/2010
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T2366984
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