Amantes sim, sacanas talvez

Naquele dia, tomava um banho diferente. Pensava em tudo o que acontecia, pensava em fazer amor com ela. Fazer amor com ela seria diferente. Estava apaixonado, não seriam dois animais no cio se esfregando. Seriam dois animais no cio se esfregando apaixonadamente. Termina o banho, se seca e coloca a sunga box. Pega a espuma de barbear, aplica cuidadosamente no rosto, não consegue disfarçar um sorriso maroto que lhe brota no canto da boca. Faz a barba ainda com o banheiro cheio do vapor do banho quente. Confere a pele com a mão, passa a loção aos bofetes. Passa o pente no cabelo, desodorante, calças, apaga a luz do banheiro e vai pro quarto. Veste a roupa que escolheu meticulosamente para o encontro. Pronto se olha no espelho, confere se está tudo certo, a gola da camisa, escova os dentes, passa o perfume importado que comprou através de uma dica dela. Confere seus pertences e sai.

Ainda no ponto do ônibus pensa, planeja, repensa em como será. Imagina passar a mão naquele mulherão, que além de linda, era a sua paixão, aquela que ele escolheu. Pega o ônibus, entra com um sorriso, sente o próprio cheiro. Olha para as pessoas do ônibus, joga um charme para as meninas que estão no ônibus, mas é só para efeito de ego mesmo. Olha o relógio, calcula o tempo de chegada, daria tempo. Repassa os passos na cabeça, mas sabe que não irá acontecer daquele jeito, era tudo um rascunho pra não se perder.

Desce do ônibus. Olha o relógio, está no prazo, a moça não está no local combinado, mulheres sempre atrasam. Passados alguns minutos, pega o telefone e liga para a moça, ela afirma estar perto. Pra não ficar de mãos vazia, vai arrumar uma caipirinha. No momento em que o rapaz degusta sua caipirinha de canudinho preto a moça aparece, sorri. Abraçam-se, se olham, sorriem novamente. Gentilmente o rapaz toma-lhe a nuca e de forma envolvente a beija. As línguas se tocavam, as bocas se sugavam, os arrepios davam o tom e diziam o que aconteceria naquela noite. Eles vão conversando de mãos dadas pela rua, vários casais passam e possivelmente nenhum estava tão feliz quanto aquele.

Ele a leva numa adega. Na adega rola uma música bem ao fundo, pede um bom vinho, uma porção de bolinhos de bacalhau. A adega é portuguesa, mas o azeite é grego. O papo vai ficando melhor, o vinho vai removendo os pudores. O bolinho acaba e o vinho também. Mais vinho para ser consumido pelas bocas ávidas de luxuria. Metade da segunda jarra acabou, se olhavam, sorriam, agora mais a vontade. Falam bobagens ao pé do ouvido e sorriem mais. Estão abraçados. Olham-se sabendo que o momento é aquele, finalmente compartilhariam sua nudez.

No caminho os corpos já vão assinalando o desejo, a vontade de se possuírem. Pedem o quarto, entram, fecham a porta e ali seria seu ninho de amor. Sem bolsas, sapatos e coisa no bolso, começam a se beijar. Com a mão direita o rapaz enlaça sua cintura, sente a mão dela que percorre suas costas por baixo da camisa. Os lábios adormecidos, não se sebe pelo vinho ou pelos lascivos beijos. Ele a toma pela nuca, gentilmente puxa seus cabelos e com a cabeça pra trás, beija seu pescoço em meio a suspiros. Agora estão nus, entregues ao final das preliminares.

Os corpos que se desnudaram revelaram os mais primitivos instintos num misto de cheiros, gostos, gemidos e arranhões. As carnes se conjugavam no presente, prevendo um futuro e esquecendo seu pretérito imperfeito. Saliva. O corpo que se abria em sua frente, deslumbrava o rapaz, o fazia querer mais. Suores se misturavam, os mesmos suores que pareciam ser o sangue dos dois que se misturava. Sentiam o coração batendo ritmado, uníssono, dois corações que estavam juntos. Não havia posição que machucasse ou cansasse, tudo era prazer, gozo.

Naquele momento toda a sua existência fazia sentido, existia por amor, para o amor. A experiência de fazer amor era diferente de todas as trepadas que dera durante a vida. Sentia a mulher parte de seu mundo sem ser sua posse. A tinha com vigor. Era um balé de corpos entregues. Durante aquela noite se satisfez como nunca antes, seus olhos brilhavam, sentiu o corpo dela se enrijecendo, a carne tremendo e os músculos relaxando juntamente com um uivo. Os corpos repousaram lado a lado na cama molhada de amor. Abraçados se olhavam no espelho do teto, pensavam em como combinavam, como fazia sentido sua união, como eram felizes. Naquela noite, o amor se repetiu várias vezes até que o sol viesse testemunhar a beleza do que acontecia.

Voltaram para casa, ela para o seu marido e ele para a esposa.

Símio
Enviado por Símio em 09/07/2010
Código do texto: T2368461