COITADO DO VELHO VIRA-LATA!!

Lêda Torre

Lá em Colinas, pelos meados de 60, em plena ditadura militar, que eu me lembre, e pelo que ouvia meus pais conversarem, a vida não era nada fácil!! Colinas, cidade interiorana , pacata, banhada por um rio lindo, perene, piscoso, o maior do nosso estado em extensão, chegava aos pouquinhos o progresso em passos bem lentos...vivíamos uma vidinha bem simples...mas lembro-me que éramos todos felizes...

È o seguinte: como na nossa cidade não tinha luz elétrica vinte e quatro horas, um motor a diesel era que alimentava as luzes da cidade. Entretanto, às vinte e duas horas, o encarregado pelo motor, dava um sinal “piscando” as luzes da cidade para avisar que dali a meia hora, tudo se apagaria!! E o resto da noite, era alumiada com as velhas lamparinas a querosene. Fumaça doida, mas servia!!o importante para nós, era não dormir no escuro! Nós crianças, tínhamos pavor de figuras que os adultos nos afrontavam metendo medo, muito medo, como o lobisomem, bruxas, dragão, alma do além...o velho carcará...essas figuras que acreditávamos existir....

Bom, vamos ao velho vira-lata. De repente, soubemos que dali em diante luz elétrica seria vinte quatro horas, teríamos geladeira elétrica, a televisão finalmente chegaria a nossas casas... Essas coisas de progresso... Lá se foram todos mandarem colocar tomadas, para ligar os futuros eletrodomésticos e eletrônicos, etc.

Menino, que não tem o que fazer, certa noite, na frente de nosso casarão, local que costumávamos brincar todos os dias, depois dos afazeres caseiros e da escola, a noite era uma criança!! Meu irmão mais velho, o Dedé, muito inteligente, pegou uma enorme agulha de costurar saco de algodão, da nossa mãe, reuniu uns doze meninos, entre meninos e meninas, inclusive os de casa, fez uma fila, todos agarradinhos as mãos, mas sem o “líder” dizer que arrumação estaria aprontando....e todos nós, bem perfiladinhos como soldados, estávamos ansiosos para saber que diabos ele estava fazendo... E na ponta da fila, meu mano colocou um vira – lata qualquer da vizinhança, um cão amigo e conhecido da gurizada. O tadinho ficou na ponta bem comportado como se compreendesse e fizesse parte da brincadeira. Até parecia cúmplice!!

Depois de toda pronta a arrumação, ele colocou a agulhona na tomada (diga-se de passagem 220 volts), o tremendo choque passou ligeiro, de menino em menino e foi parar no pobre cachorro. Foi aquela gritaria...mas foi muito rápido que não sentimos muito, e aquele cordão se desfez...e tremendo, espalhou-se menino pra todo lado...rsrsrsrsr......só que o animalzinho saiu feito louco gritando C-A-I-M...C-A-I-M...C-A-I-M...e saiu porta a fora doidinho o bicho...

A essa altura do campeonato, minha mãe e meu pai não deveriam estar em casa...lembro-me que estávamos nessa hora, aquela meninada toda lá na sala da frente...mas era sempre assim: nossos pais não poderiam saber, porque era certeza de que a “danada da taca” aconteceria de todo jeito!! Doces lembranças....como tenho saudades!! Engraçado, é que não tínhamos medo de nada!!

______São Luis-MA., 08/07/2010________________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 10/07/2010
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T2368821
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