Com autorização de quem?

“Então faz como você quiser”, dito com tom ofendido, colocou-me no meu humilde lugar: o de um cliente de supermercado se recusando a levar um número absurdo de sacolas plásticas. Isso que eu já estava com remorso por não ter levado uma das sacolas retornáveis que sempre levo no carro. Tentei, juro que tentei falar sem levantar a voz. Se consegui, não sei, mas o que falei deve ter ofendido mais: “Você tem raiva de seus filhos? Se não tem, porque participa do assassinato deles?”. Expliquei o mal que esses apetrechos causam e disse que não é do governo que se deve reclamar quando há enchentes, mas de si mesmo, do vizinho e de toda essa gente que acha que usar sacolas plásticas – e depois descartá-las na rua – é a coisa mais comum e inocente do mundo. Ela me fuzilou com os olhos e murmurou um sem número de pragas, na certeza de que a razão estava com ela.

Há um enorme jogo de hipocrisia, irresponsabilidade e cinismo por trás da questão: começa com o usuário que acha mais prático entrar num estabelecimento comercial com as mãos no bolso e acondicionar cada item numa sacola diferente, continua com os atendentes que, com a desculpa de que “os clientes exigem”, te empurram esse artefato ridículo, se reforça com o comerciante que tem medo de perder clientela se cobrar por elas ou não as disponibilizar, e chega ao auge com os políticos que, cedendo a lobbies inconfessáveis, não baixam leis coerentes e determinantes para a proteção da vida.

No Rio de Janeiro, uma lei proibindo os sacos plásticos em supermercados foi aprovada no ano passado; até agora não conseguiram implantá-la. Em Joinville, começou-se a discutir o assunto na Câmara. Em São Bento havia (há) um movimento para minimizar ou acabar com o problema. Em mais lugares isso acontece. Por que demora tanto para implantar algo eficaz, correto e justo para com a vida? Quais são as forças, os interesses, as dificuldades que o impedem? Alguém conhece uma cidade ou país que as proibiu que por isso foi varrida da face da Terra?

Para resolver o problema, basta que haja vontade política, mas parece que há um medo “inexplicável” dos políticos de tomar medidas justas. Por quê? Com autorização de quem a vida continua a ser colocada em risco impunemente?