A FALTA DE EDUCAÇÃO COMPROMETE A CIDADANIA

Já houve um tempo em que os jovens recebiam seus primeiros ensinamentos sobre cidadania no seio familiar. A família orientava-os nos seus direitos e também seus deveres. Mesmo que essa família não estivesse preparada do ponto de vista acadêmico, encaminhava seus filhos, a sua maneira, na trilha do respeito aos direitos dos outros, e os faziam cumpridores dos seus deveres.

Mas os anos foram passando, o progresso intensificou-se, veio a globalização e as famílias foram deixando de lado a orientação dos filhos. Essa orientação, diziam alguns pais, fica a cargo dos professores de Moral e Cívica, Cidadania e Ética.

O professor, além de lecionar as diciplinas que lhe cabiam, passou a cuidar da formação do aluno como cidadão, a ensinar-lhe os direitos e deveres de cada um; passou a cuidar também da educação, das boas maneiras, da higiene física e mental porque seus pais já não os orientavam em nada, entregando os filhos aos cuidados desses profissionais.

Os profissionais da Educação sobregarregados, mal remunerado, trabalhando em ambientes nem sempre condizentes com as necessidades do alunato e dos profissionais da área, em pouco tempo foram atingidos pelo mal do século, o estresse, e pronto, estava preparada a bomba e só faltava acender o estopim. E hoje se faz ouvir o eco da explosão em todos os recantos do país. Os indicadores das metas nacionais para a educação, não foram alcançadas. Conseguiram enxergar? E agora?

Conforme a Coordenadoria dos Direitos da Cidadania – CODIC; “Cidadania é a expressão concreta do exercício da democracia. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais. Expressa a igualdade dos indivíduos perante a lei, pertencendo a uma sociedade organizada. É a qualidade do cidadão de poder exercer o conjunto de direitos e liberdades políticas, socioeconômicas de seu país, estando sujeito a deveres que lhe são impostos. Relaciona-se, portanto, com a participação consciente e responsável do indivíduo na sociedade, zelando para que seus direitos não sejam violados”.

Hoje a carência da cidadania tanto está presente nos pais, como nos professores e alunos.

O ensino praticado nas nossas escolas parece ter tomado o caminho contrário, seguindo na contramão do desenvolvimento de um mundo globalizado.

O ser humano carece antes de tudo, aprender a ser cidadão. Mas como enfrentar esse desequilíbrio em nossa sociedade? Há muitas opiniões de teóricos quanto a isso. Mas como confiar na teoria daqueles que nunca estiveram no campo da aplicabilidade educacional? Não seria necessário voltarmos ao passado, descobrir o que precisamos; corrigir o presente para aplicar no futuro?

Os antigos padrões de comportamentos foram quebrados, mas onde estão afixados os novos padrões?

Já chega de retórica dos governos, pais, professores e alunos; é preciso união e mais que isso, parcerias para conseguirmos um consenso na arrumação do já fragmentado plano educacional dos nossos jovens.

Pais, não seria coerente a retomada do diálogo com seus filhos? Filhos não é salutar ouvir o que seus pais têm a dizer e poder replicar-lhes? Professores, apesar dos pesares, não seria importante recomeçar pelo começo? Aprender e ensinar a cidadania, antes do conhecimento?

Ainda há esperança de que todos entendam a necessidade premente do Brasil ser constituído por cidadãos, que respeitem os direitos dos outros e cumpram com dignidade os seus deveres.

Não confundir a cidadania com o patriotismo. Você pode ter amor ao seu país e não ser cidadão, isto é, não está no gozo de seus direitos civis e político para com o Estado.

É julho de 2010 e começa o período eleitoral no Brasil. Com tantas dúvidas, diversos são os caminhos apontados pelos teóricos. Redobrado deverá ser o nosso cuidado em tomar o primeiro atalho que se nos apontem. Porque nem sempre o primeiro será o melhor. Que Deus tenha piedade deste povo, dos futuros cidadãos deste país.

Em seu livro, Múltipla escolha, Lya Lutft expõe dúvidas que as repasso, finalizando esta crônica: “Se a política já não inspira confiança, o que vai ser do povo, do país, de nós?”, “ainda existe moral? Posso querer moralidade sem ser moralista, sem parecer ridículo?” façamos uma reflexão sobre as nossas dúvidas, que no fundo afetam as causas de todos.

Rio, 11/07/2010

Feitosa dos Santos