Desabafos de um melão

Amanheceu o dia, está tão frio aqui. Não sei se na outra carreira de frutas iguais a mim, está tão frio assim.

Daqui a pouco vai começar a passar as maquinas carregando suas carretilhas com pessoas em cima colhendo alguns de nós.

Hoje talvez seja o dia de me colherem, ah! Lá vêm eles... Fui colhido, agora estou dentro de uma caixa plástica junto com outros da mesma espécie.

Não gostei quando eu vinha dentro da carretilha e me jogaram dentro de uma piscina com uma água meio salobra e depois somos jogados pra uma esteira onde vejo que alguns de meus amigos são chamados muitas vezes de “refugo”, outros são chamados de melão de terceira.

Escutei aqui do lado noutra coluna de caixas onde existe historias do que vazem com muitos outros melões quando não atingem o brix desejado, que é melhor nem comentar aqui; que existem outros de outra espécie: Cantaloupe, Gália, pele de sapo entre outros.

Somos rolados e polidos por mãos macias de mulheres todas vestidas iguais. Depois de pouco tempo dentro desses galpões gelados já sei para qual finalidade seremos. Seja na mesa do pobre ou do rico, seja grande ou pequeno, teremos o mesmo fim. Seremos cortados e trucidarão nossas entranhas como animais famintos. Amanha?... Um novo dia, outras sementes de nós germinarão e passarão por onde eu passei.