Andava Meio Desligado.

Andava meio desligado, com pressa, atabalhoado. Sabia o caminho certo, mas sem saber insistia no andar errado. Era mais um cidadão comum, jogado entre os intelectualizados, humilhado, ofendido, banalizado, desvalido...

Sabia, porém, no entanto, entretanto, que mais hora, menos hora, se assim procedesse, estaria liquidado. Sabia e não sabia, sofria, vivia, comia, dormia, menos dia, mais dia, uma manhã, a tarde e a noite, vivia, consolava, mais dia, menos dia...

Aspirava o pó de onde vivia, a cidade onde labutava, este seu lar, o local onde amar era mais uma vez a forma de consolar o corpo degradável de hoje e de outrora. Para não dizer sim, sofria. Negando, prosperava, e a vida, a vivida, era-lhe mais uma vez a inconstância dos dias vindouros.

Não sabia quem era e murmurava um Drummond tímido nas madrugadas vazias...

“Posso, sem armas, revoltar-me? Devo seguir até o enjôo? Não, o tempo não chegou de completa justiça, o tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera. O tempo pobre e o poeta pobre seguem no mesmo impasse...”

Era ator de seu palco único de vida! Sua platéia era sua consciência!

Cristiano Covas, 16.10.05.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 14/07/2010
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