O palhaço

Conta a história de um circo recém nascido numa cidadezinha esquecida do seu lugar, cujo nome dado pelos próprios moradores faz jus ao seu viver e à sua ausência no mapa do Brasil. Fim do mundo; era assim que se chamava pelas bocas das redondezas vizinhas e do próprio local. Pois era o próprio; dali não tinha para onde mais ir; quem lá chegava ou lá ficava ou de lá voltava. E assim foi com o palhaço do circo que agora vou contar.

Diz que o palhaço entrou no picadeiro

na sua hora exata e começou a se apresentar.

Contou piadas de costume atuando em cenas

que despertaram no público atento

risadas e mais risadas pelo ar.

O tempo foi-se indo

e com ele, a espera concentrada

de cada piada que o palhaço começava a contar.

E assim foi passando

até que seu último número foi mostrar:

Pegou, escondido no canto do palco,

pernas-de-pau que estavam em número de um par.

Subiu com falsa inexperiência para o público rir

e andou fingindo desequilibrar.

E foi que no quarto fingimento

que o palhaço desatento pisou mal

e tremeu as pernas prestes a cair.

Porém tentou fazer bonito

pois tinha o seu nome a honrar

e deu dois pulos firmes

para o equilíbrio se firmar.

(o público ria sem perceber a dificuldade verdadeira do coitado).

De nada adiantou,

os pulos só fizeram piorar;

e foi caindo desesperadamente o palhaço

até bater a cabeça em algum lugar.

"Que ator ótimo esse palhaço!"

dizia o público rindo constantemente,

sem saber os abestalhados,

que dali o palhaço

nunca mais ia se levantar.

Calor do cão
Enviado por Calor do cão em 11/09/2006
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