O palhaço
Conta a história de um circo recém nascido numa cidadezinha esquecida do seu lugar, cujo nome dado pelos próprios moradores faz jus ao seu viver e à sua ausência no mapa do Brasil. Fim do mundo; era assim que se chamava pelas bocas das redondezas vizinhas e do próprio local. Pois era o próprio; dali não tinha para onde mais ir; quem lá chegava ou lá ficava ou de lá voltava. E assim foi com o palhaço do circo que agora vou contar.
Diz que o palhaço entrou no picadeiro
na sua hora exata e começou a se apresentar.
Contou piadas de costume atuando em cenas
que despertaram no público atento
risadas e mais risadas pelo ar.
O tempo foi-se indo
e com ele, a espera concentrada
de cada piada que o palhaço começava a contar.
E assim foi passando
até que seu último número foi mostrar:
Pegou, escondido no canto do palco,
pernas-de-pau que estavam em número de um par.
Subiu com falsa inexperiência para o público rir
e andou fingindo desequilibrar.
E foi que no quarto fingimento
que o palhaço desatento pisou mal
e tremeu as pernas prestes a cair.
Porém tentou fazer bonito
pois tinha o seu nome a honrar
e deu dois pulos firmes
para o equilíbrio se firmar.
(o público ria sem perceber a dificuldade verdadeira do coitado).
De nada adiantou,
os pulos só fizeram piorar;
e foi caindo desesperadamente o palhaço
até bater a cabeça em algum lugar.
"Que ator ótimo esse palhaço!"
dizia o público rindo constantemente,
sem saber os abestalhados,
que dali o palhaço
nunca mais ia se levantar.