A Fome de Henry Miller.

Os personagens de Henry Miller e seus comparsas inescrupulosos aparentavam sempre estarem famintos, porém mesmo assim não dispensavam de maneira alguma uma dosinha de bebida alcoólica.

Viviam em quartos infectos de Paris, não se sabe ao certo como, provavelmente com a ajuda dos outros que, por piedade ou por não agüentarem mais a encheção de saco, lhes auxiliavam com o que podiam, mesmo que um pedaço de pão velho ou um quarto de garrafa de vinho barato que estava na dispensa desde o reveillon passado.

Viviam totalmente indispostos para a prática de atos que não dissesse respeito à literatura, loucura, depravação sexual e álcool, o que de certo modo atraia alguns gatos pingados e algumas vadias das esquinas francesas.

O interessante em tudo isso é a forma como lutavam para não pegarem no pesado e a perspicácia para encontrar uma boquinha livre, principalmente quando regada com um pouco de álcool e, se possível, que tivesse mulher na parada.

Eram uns maltrapilhos que se diziam poetas preteridos pela sociedade de consumo, loucos por conseguirem a fama com seus escritos sórdidos. Alguns conseguiram, como o próprio Miller, outros, porém, sucumbiram ao ostracismo e às drogas, perdendo-se em becos sem saída, feito mendigos.

Não deixemos que a arte tome conta de nosso dia-a-dia.

Saibamos o momento certo de abandoná-la quando ameaçadora de nosso instinto básico de sobrevivência.

A final, a vida existe para que a arte não nos destrua.

Cristiano Covas, 01.11.06.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 15/07/2010
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