De botecos, Idéias Sujas, Secos & Molhados.

Deixei o escritório por volta das cinco e meia da tarde.

Avisei a garota que estaria indo direto para o boteco do Seu Alfredim, bebericar cervejas geladas, ao som do mp3 player e esquecer o mundo imundo.

Olhou-me com certa insatisfação, eis que havíamos combinado de irmos a um show de rock numa pizzaria na sexta feira, e ainda era quarta, o que desfalcaria um pouco nossas finanças. Por fim, deu tudo certo. Não iríamos à pizzaria na sexta, enquanto eu iria sozinho ao boteco me embriagar ao som de meus neurônios.

Caminhei por cinco quadras até o local. Encontrei seu Alfredim solitário com os cotovelos apoiados por sobre o balcão, a olhar vagamente a rua e seus transeuntes, com atenção redobrada para as bele femmes. Seu Alfredim é um “mulherólogo”, nos dizeres de Stanislaw Ponte Preta. Imagino que dificilmente mantém uma relação de factum, porém é um proseirão de mão cheia no que diz respeito a garotas e a atos libidinosos.

Nem precisei dizer-lhe nada; logo me veio com uma daquelas geladas e um papo quente que deveras conheço: mulheres, moral e política, toda sujeira condizente com um boteco caindo aos pedaços. Freezer’s enferrujados, mofos nas paredes e teto, bolores, balas e chicletes vencidos, copos sujos, mesas sujas, banheiros sujos, idéias e ideais de um mundo sujo...

No fundo de tudo, ao lado da pia, chiava um rádio que fora de seu tataravô, num AM mal-sintonizado, roncando músicas inaudíveis, de uma qualidade insignificante, utilizado apenas, ao seu dizer, para conter ouvidos perspicazes, que porventura queiram escutar comentários das mesas alheias.

Seu alfredim é expert na lida do comércio. Iniciou sua trajetória aos 16 anos, quando conseguiu adquirir uma pequena mercearia com o fruto auferido na roça. É um trabalhador voraz, não há como lhe desmerecer.

A seguir casou-se com uma boa moça, porém feia mulher. União à qual lhe granjeou dois filhos. Conseguiu manter a família com as rendas de uma livraria, intitulada: “lojinha”, que ainda hoje existe, porém administrada por seu filho caçula.

Separou-se, montou um bar e virou putanheiro. Bebe regularmente, é meio depressivo e não vê outra perspectiva de vida a não ser comandando seu estabelecimento. Sofre com bêbados e drogados, que enchem o bar aos sábados e domingos, utilizando seu banheiro para o consumo das mais variegadas substâncias alucinógenas.

Acabei ingeririndo cinco ampolas de 675ml, intoxiquei-me com diversos cigarros, meditei sobre o vazio existencial, num fluxo de consciência, e rumei cambaleante para o lar, meio apressado, em busca do jantar e antes mesmo que o disco-voador porventura pousasse.

Cristiano Covas, assentado no delírio, 06.03.08.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 16/07/2010
Código do texto: T2380663