A sombra.

Eu ando preocupada, confesso!

Pois, desde criança sentia que nunca estive só, sempre existia uma coisa colada a mim.

Era preta, cinza... Ou sei lá a cor. Mas, nunca me deixava só.

Contorcia-se de todo o jeito, não tinha olhos, nem boca e parecia comigo.

Ah, tem mais... Essa coisa não falava! Eu "puxava assunto", mas a desgraçada não dava bola. Parecia ignorar. Eu contava todos os meus segredos, e não sei se a coisa guardava ou se saia falando para os outros pelas minhas costas, já que ela andava tão monótona atrás de mim.

Quando eu sentei debaixo de uma árvore, a maldita coisa sumiu por uns instantes, depois voltou e muito, muito gorda. Parecia agora que fazia parte de mim e da enorme árvore, eu perguntei a ela porque ela tinha engordado, mas a mesma não me respondeu. Fui embora, e com apenas alguns passos dado percebi que aquela coisa continuava lá. Do mesmo tamanho, aí olhei para detrás de mim e ela ainda me acompanhava. Senti como se houvesse deixado parte de mim junto da árvore.

Em alguns momentos aquela coisa, ou aquele ser... Ai eu não sei o que era! Ela me deixava só, mas por uns breves, muito breves momentos. Era tão estranho, pois, quando ela estava comigo queria que fosse embora, mas como ela nunca ia acabei me acostumando. Então quando ela sumia sem mais nem menos queria que ela voltasse o mais depressa possível, ela era a minha única companhia.

Uma vez caminhava sozinha, ou entre aspas com a minha coisa. E um homem vestido de preto me parou na rua. Não conseguia ver o rosto dele, pois, um capuz enorme o cobria. Fazia muito sol naquele dia, a coisa parecia mais nítida atrás de mim, e esse homem abaixou e beijou o asfalto, ou melhor, a coisa. Fiquei sem entender, mas quando ele deu o beijo senti em meu rosto como se o beijo fosse em mim. E quando o homem levantou pôs no seu bolso a minha coisa e partiu. Eu fiquei sozinho, o homem levou minha única companhia... Comecei a ver pessoas como eu e já não estava sol, era outro lugar, as pessoas caminhavam e nenhuma tinha aquela coisa atrás colada no corpo, nenhuma! Nem eu... E uma moça linda, com os cabelos ruivos e olhos brilhantes e azuis apareceu.

- Bem vinda ao céu querida, aqui é seu lugar.

Aquele homem roubou minha alma, roubou minha vida e eu morri. Mas no céu encontrei coisas melhores e encontrei também aquele homem. Por incrível que parece o encontrei. Pronta para tirar satisfações, ele sorriu e abriu os braços e me disse:

- Quanto tempo eu esperei por isso, agora estás aqui! Podes falar comigo, contar seus segredos, eu a ouvirei e FALAREI com você.

Agora pude entender, é lógico! Aquele homem que apareceu e levou minha coisa, era a minha própria coisa, era meu anjo que foi me buscar lá na terra. Ele sempre me ajudou, soube que ele só fez isso porque minutos depois de caminhar ainda na terra, sofreria um terrível acidente. E ele me levou na hora certa... Era a minha sombra!

***

"Te espero em lugar nenhum sombra, BelraCross;"

Belra Cross
Enviado por Belra Cross em 17/07/2010
Reeditado em 17/07/2010
Código do texto: T2383985
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