Fé: crença; confiança

A definição no dicionário é objetiva, mas hoje, após uma prece, fiquei pensando na fé e no que ela representa. Crença em quê? Confiança em quem? Nos dias atuais, tem sido cada vez mais complicado falar de fé. De minha parte, acredito em Deus, faço minhas orações, creio que posso ser ouvida e que serei atendida. Mas, a nossa fé pode e deve ser muito mais abrangente, ou complexa. Até mesmo porque a fé numa força superior, seja qual for a que se acredita, depende da crença na própria força. E isso hoje também anda meio complicado.

A simples fé implica uma disposição de alma para confiar, uma confiança do coração e não apenas uma aquiescência intelectual. Para alguns, falar em confiança do coração pode parecer um tanto piegas, mas se paramos para pensar na origem da fé de cada um, vamos chegar justamente em alma, coração, espírito. E é aí que mora o cansaço da fé perdida.

Quem não conhece alguém que perdeu a fé no amor, na amizade, na vida, por causa de uma grande decepção? Vivemos dias de total incredulidade, depois de tudo o que andou rolando e ainda rola na nossa capital, por exemplo. Nas relações do dia-a-dia vemos que ficaram pelo caminho virtudes como lealdade, fidelidade, tolerância, honestidade, retidão de caráter, humildade, caridade, profissionalismo, respeito, educação... só para lembrar as que julgo fundamentais. Cansa mesmo.

Há um tempo atrás falei sobre preguiça, que na verdade foi uma denominação para a minha momentânea falta de fé. Bateu este cansaço. De repente me vi desacreditando da vida, das pessoas e daqueles que nos governam. E foi como uma bola de neve, um sentimento se acumulando em outro, até me descobrir completamente sem fé em mim mesma. Me senti um zero, vazia, sem objetivo, tentando descobrir o que é o sentido, o que faz sentido e como descobri-lo em mim e na minha existência.

E há muita gente assim por aí, que começa pela falta de fé em si e desacredita de tudo ao redor, ou vice-versa. Força superior então, nem pensar! Segundo Marco Antonio Del Lama, professor de evolução e pesquisador da Universidade Federal de São Carlos, “é difícil imaginar que alguém possa, esquizofrenicamente, enfrentar a vida ora como um religioso e ora como um homem de ciência”. Ele vê o cientista como uma pessoa que, além da ciência, pratica também uma fé. Também sigo nessa linha: o cientista, mais que ninguém, acredita nele mesmo, no seu trabalho e no resultado dele. Sem isso, não seria um cientista.

Voltando ao início, no momento que faço uma prece recupero e redobro minha capacidade de ter fé e sinto que isto me faz bem. Repenso em tudo o que vivo nos meus atribulados dias, reavalio o que leio nos jornais e assisto na TV, recordo as lições que já li e aprendi nos livros que passaram pelas minhas mãos. Fecho meus olhos e me sinto grata – ainda consigo. E me lembro de novo de quando falei de preguiça, falei também de amor à vida, que não posso perdê-lo, para não perder a fé.

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 12/09/2006
Código do texto: T238406
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