NÃO QUERO MAIS SER IMORTAL

Pronto, agora é sério! Desisti de ser imortal – não quero mais, mesmo.

E não falo sobre a imortalidade, como alguns super-heróis de quadrinhos, tais como o Fantasma. Aquele que andava num cavalo branco, morava numa ilha deserta, tinha uma paixão secreta chamada Diana, e que nunca morria. Quem tem mais de 50 anos sabe – saudosisticamente – do que estou falando.

Não! Eu não quero mais ser mais imortal da ABL – Academia Brasileira de Letras. Aquela instituição secular, com sede na Cidade Maravilhosa e que congrega alguns mortos e vivos famosos para o tradicional chazinho com biscoitinhos de laranja.

Digo isso – que não desejo mais ser imortal – com muito pesar, porque depois que acompanhei a admissão na ABL de autores como José Sarney, Ivo Pitangui, e especialmente Paulo Coelho, sinceramente, sempre acreditei que até eu seria admitido um dia. Acreditava que as minhas poesias seriam melhores que o “Marimbondos de Fogo” de Zé Sarney (ou Sir Ney). Achava que as minhas crôniquinhas seriam melhores que aqueles livros de auto-ajuda travestidos de filosofia oriental barata, do David Cooperfield das letras – aquele que sempre tira coelho da cartola. Sim, sempre tive esperança !

Na verdade, o que desancou de vez a minha pretensão de ser eterno, foi uma reportagem publicada no “Estadão”, onde aparecia uma foto do recém imortal - o empresário José Mindlin – provando o seu traje para a vida eterna num alfaiate de altíssimo nível, especializado em fazer os “fardões” da vetusta academia.

O texto do jornal, citava que o traje era confeccionado em “cambraia inglesa” – ou seria ingleza, com “z” – e custava a bagatela de R$ 35.000,00. Este aspecto pecuniário, transtornou-me... R$ 35.000,00 para ser imortal ? Meu Deus, é uma grana preta.

Tomei a decisão depois de ler aquilo. Se eu conseguir vender todas as minhas poesias e crônicas e conseguir juntar R$ 35.000,00, vou ser é MORTAL mesmo, e gastar toda esta grana viajando e jogando conversa fora em alguns barzinhos aqui de Salvador, onde me encontro neste instante à passeio. Não vale à pena ser imortal - é caro prá chuchu !