O monstro

Wilson Correia

Acordava às cinco. Ás sete respondia “presente” no colégio estadual. Entre um horário e outro, caminhava. Residia uma légua longe da sala de aula.

Ao fazer esse percurso, algumas vezes se beneficiava da luz sobre as trilhas. porém, na maior parte dos dias letivos, o breu o impedia a nitidez da visão.

Numa manhã em que a visibilidade não estava totalmente fechada, nem completamente aberta, a penumbra plantou um vulto à frente e à direita dele. O vulto atraía os olhos do Estudante. Parou. O vulto parecia um ser vivo. Mexia para lá e para cá. Ziguezagueva ante seu olhar.

O Estudante permaneceu parado. Pernas trêmulas, braços cruzados e em posição defensiva. Ele inteiro titubeando, sem saber se voltava, se passava ao largo daquilo ou se prosseguia. Viu-se como uma ilha humana cercada de medo por todos os lados.

Aterrorizado perante o perigosíssimo monstro, voltou em desabalada carreira para casa.

Ao chegar, ofegante, à cozinha onde seu pai ainda tomava café e comia batata assada, ouviu do velho a indagação:

- É a primeira vez que você volta, amarelo... o que aconteceu?

O Estudante mentiu:

- Dor de barriga, pai.

- Então, trate de se curar porque vamos buscar as árvores que derrubei ontem. Precisamos de muita tábua e você poderá me ajudar nesse serviço.

E lá foi o Estudante acompanhando o pai para ver que o “monstro” que o fez estremecer na madrugada não passava de uma grande tora que foi arrastada pelo trator.

Conclusão:

- É perigoso demais quando uma simples miragem é transformada em medo monstruoso em nossa mente e é sábio demais esforçar-se para discernir uma coisa daquilo que a outra é.